O meu coração tornou-se como cera e derreteu-se dentro do meu peito.
A minha garganta ficou seca como barro cozido e a minha língua colou-se ao céu da boca.
Assim me reduzistes ao pó do túmulo.
....por isso desculpa eu estar a contar-te isto, nem te preocupes.
Mas, já agora, queria falar-te de um casal que costumo encontrar a passear no campus, ele é cego, ela é loura, hoje ouvi-os a falar. Ela contava-lhe acerca de alguém (devia ser uma criança) a quem ela perguntou se queria mais alguma coisa e esse alguém disse que queria só leitinho morno. E ela deu-lhe leite morno.
A senhora loura contou ao seu companheiro cego que deu leite morno a alguém que lho pediu.
Eles andam a pé, às vezes é de manhã que os encontro, e inevitavelmente penso em mim, cabra egoísta infantil e adolescente que sou.
O mundo a girar à volta da minha barriga e sinto falta das árvores, eu às vezes fico triste porque penso em não fazer coisas e depois faço-as e penso em não contar mais nada e depois conto tudo, falo horas, horas intermináveis, com princípio, meio, 3 mil historietas à mistura, intercaladas com segredos que me contam, e fim, eu tento sempre terminar num tom positivo, com uma piada ou uma frase feita do tipo "entre mortos e feridos alguém há-de escapar" ou "valha-nos o David Luiz" ou mesmo "não ligues que eu posso não ter nem um décimo do equilíbrio que aparento mas sou espectacular".
Com os meus 29 anos e ainda tenho sardas, sou a única dos 3 irmãos que mantive as sardas, vão ser manchas daqui a não muito tempo. Sentada nos primeiros bancos da igreja, a olhar para o novinho em folha círio pascal, onde está escrito 2010, eu pensei que daqui a 10 anos estará lá escrito 2020 e porque eu na morte acredito mas na ressureição já não sei, penso na liturgia das horas que sei de cor.
Hoje, pela primeira vez, parei uns segundos antes de começar a comer e disse sem falar, obrigada por esta refeição, respirei fundo sem fazer barulho e comecei a comer, como se vivesse num tempo que é outro, é aquele do pátio em frente à casota, a ouvir os Parodiantes de Lisboa e a rir com a minha avó, eles às vezes eram ordinários mas eu podia passar dias a fio a costurar ou a construir cabanas a sentir falta de socialização.
Essas coisas, competências sociais, tanta falta me fazem quando me sobe aquele medo de estar com pessoas novas, jantares, lanches e bailaricos, que falta me faz aquela competência social de não me achar inferior, de não achar que toda a gente sabe segredos que se contam em blogs e jornais especiais, referências comuns, será que algum dia eu vou gostar de sushi?
segunda-feira, 19 de abril de 2010
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