Fevereiro. Porto.
O conferencista do workshop sobre arte e fé falava como um sapo velho, rouco, empertigado, obcecado por arte, parecia-me que ele não estava para brincadeiras.
Da Sé levou-nos para a Igreja de Santa Clara.
Entramos e fomos-nos sentando aos poucos, enchendo o templo.
Quando estávamos quase todos sentados, pareceu-me, a mim de boca escancarada a olhar em volta, que se fez silêncio.
- Compreendem agora o conceito de arte total?, perguntou o sapo baixinho ao microfone, de olhos a brilhar, como se estivesse a dizer Vêem, vêem como tenho razão em ser obcecado pelo barroco, pela talha dourada? Vêem? Vejam com os vossos olhos, vejam como tenho razão até ao infinito para sempre.
- Compreendem agora o conceito de arte total?
Mais ou menos.
Meados de Agosto. No regresso a Lisboa.
Amar o que está próximo.
Depois vou entender que o que está longe - e me parece tão melhor - será próximo quando eu lá chegar.
Que este próximo já foi longe.
E agora é próximo e eu odeio-o.
14 de Agosto. Mesa do jantar.
- Não foste ter connosco à praia. Não foste à festa. Vou dizendo às pessoas que ainda perguntam por ti que estás noutra, que já não gostas deles.
Eu fiquei em pânico e confessei: Não lhes digas isso, isso não é verdade (quem me dera ter "outra" para estar, pensei eu). Sabes que tenho problemas na cabeça não é?
- Sim, eu sei.
Vesti-me e dancei no baile várias versões do Pai da Criança.
Sim, compreendo agora o conceito de arte total.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
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