sábado, 5 de fevereiro de 2011
I miss the kisses and I miss the bites.
Deu Red House Painters, Bon Iver, Jeff Buckley a cantar Bob Dylan, deu ainda Mazzy Star e Yo la tengo... enfim, deu esses clichés todos, até começar Marvin Gaye.
Eu fingi que não era importante.
A meio, quando ele falava não faço ideia do quê, eu permiti-me observar.
A forma da cara quando coça o queixo, a boca, os olhos, as sobrancelhas, a pele corada, as pestanas não deu para ver porque não tinha luz suficiente.
A conversa voltou a interessar-me quando se falou de nudez e pensei em coisas.
Fala-me de grandes lagos e de coisas que existem noutros países, de rituais africanos, de milho e azeitonas, de amigos com esgotamentos e de escritórios, de jogos de linguagem, de café e tabaco, o seu entusiasmo pela vida deixa-me num estado de encantamento.
Fico com vontade de argumentar contra mim, explicar-lhe tudo o que eu tenho de errado, através de narrativas dramáticas da minha vida, organizadas como se fosse uma dissertação mas com piadas pelo meio.
Mas, em vez disso, dou por mim a gostar de conversar sobre coisas da vida, coisas grandes e coisitas pequenas.
Eu própria começo a achar que está tudo perfeito.
E quando, horas mais tarde, acho que devo dizer alguma coisa sobre esta relação platónica, digo:
- Quando te vais embora, fico com saudades tuas.
E o que podia ser um momento romântico, é uma grande confusão de linguagem, saudades é uma expressão demasiado forte, o ir embora tem uma carga internacional, a construção verbal só desajuda, eu tento explicar mas enquanto o faço, deixou de poder ser um "momento harvest moon" e passou a ser só mais uma coisa confusa que eu disse.
As minhas pernas dobradas no sofá, não está tanto frio como tem estado, mas mantenho-me protegida debaixo de uma manta, dentro de uma bolha desesperada, a tentar verbalizar o medo que tenho de relações.
A minha cabeça a mil à hora, a tentar encontrar uma maneira simples de dizer as coisas, entretanto como tenho medo de ficar calada, continuo a dizer parvoíces pouco claras e depois ele foi embora, está tudo bem, há compreensão, entendimento, não há pressão mas o céu está cheio de estrelas, volto para casa a cantar o Não há estrelas do céu e sento-me na minha cozinha, derrotada, a olhar para o meu tecto que está a cair, como uma chuva de sapos, ainda vai cair mais, fico ali sentada quase no escuro a olhar para aquele acidente, aquele sinal divino, o meu drama doméstico ali desenhado no estuque,
o melhor é eu nem lhe tentar explicar mais nada, o tecto fala por si, eu já lhe disse que achava estranho o estuque ter caído poucas horas depois de ele ter estado sentado lá debaixo a dizer-me coisas importantes, ele concordou comigo e acrescentou que pode ser mau sinal e eu ri-me quando ele disse isso.
Se ele tivesse dito que era bom sinal, eu tinha rido na mesma.
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