quinta-feira, 15 de março de 2012

This is a song about two people that fall in love in a record store

Quando um acontecimento marcado na minha agenda me deixa ansiosa e nervosa, não no bom sentido sensual mas antes no sentido infantil "será que há alguma hipótese de me livrar disto?", eu começo a falar nele a muita gente.
Foi o que aconteceu com a inspecção do carro.

Ia falando sobre isso como se fosse uma coisa importante, alterando o meu tom de voz, insinuando que precisava de ajuda para esta tarefa, discutindo o porquê daqueles gritos que não se entendem quando os inspectores estão debaixo do nosso carro, a gritar cada vez mais irritados, e depois nos avaliam, com ar professoral mas com piadas à mistura.

Enfim, depois de encolher os ombros umas milhares de vezes, dizendo "se chumbar chumbei", como se não me importasse, como se não fosse crucial para mim passar à primeira, lá chegou a hora do exame.

O inspector pareceu-me um inspector normal, lá fui desempenhando as árduas provas que nos colocam a fazer, como se eu assim pressionada conseguisse perceber como se faz pisca para a direita (DIREITA, EU DISSE DIREITA) ou mesmo travar ou acelerar.
Bom, na verdade, o inspector foi simpático, agradeceu o facto de eu ter montado o triângulo e colocado os cintos e o colete para ele sentir como eu me importava.
Depois veio aquela parte em que são eles a pegar no carro para o torturar, e eu fiquei cá fora, sem conseguir olhar bem para o meu veículo, mas olhei assim de relance, como se não quisesse saber e o inspector lá estava dentro, a mexer no meu volante e a olhar para mim.

No final, mandou-me estacionar o carro.
Claro, vou chumbar.
Vai ser horrível, o carro está todo estragado, vou ter que passar horas a gastar dinheiro em oficinas, a ir a vir buscar o carro e a voltar a este centro de inspecções.

O inspector veio ter comigo, ficamos os dois de costas voltadas para o barracão dos exames e ele disse:

- Está tudo bem com o seu carro.
Mas vou ter que lhe dizer uma coisa, que a menina vai achar estranho mas eu vou ter que lhe dizer.

(pensei que ele ia fazer uma piada que eu não ia entender, estava assustada e curiosa ao mesmo tempo)

É que eu tenho uma relação profunda com Deus, mas agora não me interessa a minha história.
Quando estava a fazer a inspecção do seu carro, Deus falou comigo sobre si, e quis enviar-lhe uma mensagem.
Ele pediu-me para lhe dizer para não se esquecer da sua mão amiga.
Disse-me que todo esse choro, todos esses problemas vão passar e para você não se esquecer que ele tudo provem. 
Eu sei, isto parece-lhe estranho.


(olhei em volta, pensei: isto é uma piada aqui deste Centro, eles fazem isto e depois riem-se muito, todos vestidos nas suas fardas verdes, mas olhei para ele e fiquei na dúvida - ele quis que eu estacionasse mais à frente, levou-me para um locar afastado daquele escritório final onde eles escarnecem dos nossos veículos e tive vontade de lhe pedir para escrever a mensagem de Deus toda, porque eu ia com certeza esquecer-me de tudo, até porque me distraí a pensar se ele estaria mesmo a ser franco.)
Balbuciei:
- Mas eu tenho fé.

- Eu sei, ele também me disse isso. Tome o certificado da inspecção e siga a sua viagem com confiança.


E então começou a chover.