
Sentada na sala de espera do último piso (o das crianças e dos bombistas) eu olhava para a televisão, metade interessada, metade ansiosa por estar a perder tempo útil de trabalho (não cumprir os horários que faço para mim própria causa-me subtis mas intensos ataques de pânico - os meus traços obssessivo-compulsivos às vezes assustam-me).
Foi quando desviei o olhar da televisão para o desenho do mickey, com certeza mickey diabético, que veio aquela sensação estranha quando nos lembramos dos sonhos.
Meu deus, sonhei com o meu avô. Ele tinha chapéu e fato de riscas.
Nunca conheci o meu avô paterno mas durante a noite eu estive com ele e ele era uma pessoa diferente da que me dizem que ele era.
Mostrei-lhe a minha casa nova, tentei leva-lo a ver a minha mãe, ela ia ficar tão contente ao sabe-lo vivo.
Andamos em edificios de pedra, com grandes e austeras varandas mas eu sofria muito.
Não quero mais recordar este sonho, foi demasiado intenso.
A noção de que o meu avô me apareceu em sonhos porque me quer dizer qualquer coisa desinquietou-me durante toda esta sexta feira.
Lembro-me sempre do "Nazareno", uma opera rock do Frei hermano da Camara, onde a Amália fazia de Madalena e havia a famosa cena dela ir ter com Jesus e todos ficarem a olhar por ela ser bonita (na minha versão é bonita em vez de prostitua). E essa cena tem uma musica que é:
Eu sonhei em sonhos que aí com Simão, jantavas oh Cristo de faces radiosas, e trago-vos cravos, trago-vos rosas...
É que Deus resolvia muitos assuntos através de sonhos.
Antes de ir para Israel, a minha mãe disse-me:
- Escreve um papelinho para eu pôr no muro das lamentações. Eu não o leio.
Mas eu perguntei:
- Mas é pra escrever uma lamentação ou uma prece?
- Uma prece - disse ela, como se toda a vida tivesse ido deixar recados no Muro (se calhar toda a vida o fez mas a sonhar).
Lamento, prece, suplica, pedido, oração não são coisas exactamente iguais e não me parece justo encher o muro das lamentações de pedidos.
Escrevi então um pedido no papel dos recados telefónicos e dei à minha mãe, dobradinho em 6.
Se calhar mais valia ter feito um lamento concluindo com uma nota a Deus a dizer:
- Se és Deus, deves saber melhor do que eu o que afinal preciso. Eu dizer problemas até consigo mas as soluções nem sempre são claras para mim.
Como os sonhos.
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