1.
Aqui há uns meses atrás, estávamos ainda no eterno Verão de 2011, eu fingi que não dei por ele, encostado à ombreira da porta, a olhar para mim através do vidro. Ali estava, parado e fixo em mim, a fazer inchar a minha vaidade mas ao mesmo tempo a deixar-me sem saber o que fazer.
Decidi beber o café devagar em vez de o beber à pressa, até porque eu gosto que alimentem a minha auto-estima, como as pessoas simpáticas que regam as plantas na casa do amigo que está em viagem.
Os dias foram passando e de tempos a tempos ele aparecia e abordava-me de uma forma esquisita.
Claro que o meu fraco e perturbado discernimento para estas coisas das aproximações entre homens e mulheres fazia com que eu lhe desse conversa suficiente para ele achar que me podia convidar para coisas e sítios.
E claro está também que eu sabia que não queria nada com ele - e aqui o meu discernimento já é mais apurado para perceber rapidamente quando não vai dar.
Contudo: como posso eu recusar quem me rega as plantas quando estou longe de casa?
O tempo e as coisas da vida tornaram esta situação uma pequena anedota entre amigos, que eu floreei com a minha imaginação e que às vezes eu contava para desanuviar ambientes.
Pois eu decidi que em Dezembro eu ia serenar a minha raiva e deixar de me queixar de tudo, de nada e do que está no meio disso, falando antes de coisas com piada, simultaneamente construtivas e distractivas, que forneçam um tema de conversa animada para vários minutos.
2.
Volto há cerca de 3 anos atrás, quando tive um crush muito confuso por um rapaz que afinal não tinha (não tem e nunca há-de ter) interesse algum por mim.
A história deste crush acabou comigo, no final do que eu achava que estava a ser um date, a dar boleia a ele e a uma rapariga que mais tarde vim a saber ser sua amante, deixa-los numa festa e voltar para casa convencida que estava tudo a concorrer para eu ter um caso qualquer com ele.
Também este caso se tornou numa anedota entre amigos.
3.
A serenidade deste meu Dezembro foi enriquecida com a graça de encontrar à minha frente estas duas personagens numa mesma noite.
Não havia nenhuma ombreira a que o primeiro não se encostasse para fixar alguma rapariga para seguidamente a abordar de forma esquisita mas eficaz, já que ele ficava à conversa com elas durante tempo o suficiente para as convidar para coisas e sítios.
E o segundo utilizou-me para chegar até uma rapariga que estava comigo, ficando depois a tentar engata-la de uma forma assustadoramente obcecada e intensa, mostrando-me a mim os sinais que eu não vi à altura em que o conheci.
Eu observava tudo o que já sabia mas mesmo assim fiquei a olhar para ver o que acontecia.
Perguntei a mim mesma o que era este incomodo que estava a sentir?
Ciúmes por não ser a mais pretendida da festa?
Inveja?
Ressabiamento?
Sim, claro que tudo isso.
Mas também medo.
Eu continuo a acreditar em qualquer idiota que me faça a corte (ou que me pareça que está a fazer a corte). Sou tão ingénua como quando tinha 15 anos.
E se eles sabem?
E se eles descobrem que eu acredito em tudo?
Divertida e num passo dançante, deixei aquele espectáculo serenamente, peguei em mim e regressei a minha casa para regar eu própria as minhas plantas.
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