quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O tempo vai parar dois segundos e eu vou aproveitar para respirar fundo

(Ontem, antes de adormecer, já quase a entrar no sono, e sem que o que estivesse a pensar fosse relacionado com ele, eu pronunciei esta estúpida frase: Ele tem outra.
E uma mulher sofre sempre quando ele tem outra.)



No balcão estava uma caixa cheia de cuecas azuis.
O senhor perguntou-me se eu não queria umas.
Claro que menti e disse que já tinha.

Eu até gosto de fogo de artificio.
E de festas.
Mas a passagem de ano...
(suspiro)
... tem qualquer coisa de intrinsecamente deprimente e sujo.

Eu gosto das resoluções para o ano novo, gosto da ideia de ir haver um ano novo, podia agora aqui fazer um post sobre 2008 e sobre como foi um ano importante e bla bla bla o proximo vai ser mesmo bom bla bla bla vou-me apaixonar pela pessoa certa bla bla bla vou fazer depilação com regularidade bla bla bla vou partir de terra em terra a fazer o bem.

É verdade que a passagem do ano, o fim de um e o início de outro, são excelentes tópicos de conversa, direi até uns dos melhores desbloqueadores de conversa sazonais.

Mas no fundo no fundo, o belíssimo e romântico cais das colunas é barulhento e malcheiroso e a delicada e pura neve branca é gelada e torna-se numa pasta nojenta de lama preta.

Gosto mesmo é de folhear agendas perpétuas.
Vou comprar uma bonita para mim.

sábado, 27 de dezembro de 2008

O pior é que, quando uma pessoa acorda com frio, custa muito a aquecer

Síndrome vertiginoso a amassar azevias é perigoso mãe!
Falar com o pai sempre a discutir também.
Vésperas de Natal e dei graças a Deus por haver azafama.

A minha mãe proibiu-me de ir ao cemitério.
Eu queria ir porque deixei poucas camélias e tudo muito mal arranjado.
Fui lá há dias e nada há de mais triste que um cemitério em vésperas de Natal, cheio de mães que perderam filhos, colocando presentes em campas, eu saí de lá e pensei que é injusto eu não viver quando o posso.

O meu tio veste-se sempre de Pai Natal à meia noite, precisamente quando a familia conversava acerca da psoriase, doença partilhada que tem causado muitos estragos.

Quanto a mim, tinha os pés gelados mas gosto sempre daquele momento em que o meu tio bate com força à porta e assusta os meus primos mais novos, pondo-os a chorar quando lhes diz que, como não puseram sapatinho na chaminé, não terão direito a presentes.
Eu também já passei por isso, sei bem como o Tio Natal é malvado e assustador...

- Traz-lhe já a bola do Benfica para ele não chorar, disse a minha mãe.
Assim fiz.

Fomos poucos para casa, cabíamos num carro só.
Tenho muitas saudades da minha avó.
Ela agarrava-me as mãos para eu não fazer feridas em redor unhas, como tenho o vício de fazer.

Aproximei-me da minha amiga orfã no final da missa de dia de Natal.
Ela disse-me que decidiu não chorar mais, nunca a tinha visto assim, tão determinada.
Fixe, disse-lhe eu.
Abracei-a e comecei eu a chorar.

Claro que o INEM esteve na minha casa no dia de Natal à tarde, devido a um chilique da sogra da minha irmã.
Mas foi um dia muito bom.

Escreveu-me um amigo meu que 2009 vai ser o melhor ano das nossas vidas.
Por mim pode ser.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Campeã de Inverno

O coro cantava muito bem.
Tão bonito.

Pensei: detesto esta gente quase toda. Na sua maioria, são pessoas pelas quais não sinto nem estima nem respeito nem qualquer tipo de admiração ou mesmo interesse.
Detesto esta "classe alta", esta "elite" de merda que manda calar a plebe para falar em nome da plebe.

E dei por mim comovida com o Natal.
Tão bonito, o Natal.
A surpresa da salvação a 5 km de Jerusalém.

E eu que só queria estar feliz mas nem sempre dá.

E 2009, que segundo me disseram, vai ser o melhor ano das nossas vidas vai ter um março, um abril, um junho, com dias de sol.

Na verdade, eu acordei cheia de frio e ainda não aqueci.
Parece-me que ninguém quer ser o meu saco de água quente.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ainda vou arrumar toda esta roupa e lavar a loiça

Ela contava-me dos seus flirts, dos seus casos dos últimos meses.
Eu estava com dores menstruais e uma hipoglicemia.

Pior, eu não tinha caso algum para lhe contar.
Com a ajuda do pouco açucar que ainda me chegava ao cérebro, eu ainda dei por mim a tentar lembrar-me de alguma coisa interessante para contar, de preferência da minha vida amorosa pois é sempre um tema espirituoso e engraçado, mas não me ocorreu absolutamente nada.

Nada.

Mas se ela quer saber mesmo sobre mim, eu tenho um cesto cheio de coisas que trouxe de casa da minha avó e que está intacto.
Ponho-o debaixo da janela do quarto, mudo-o para o corredor, trago-o para a sala.
Ali está ele, ainda por despejar, está lá um galo de barcelos, está lá a tesoura que o meu avô deu à minha avó há 50 anos, o proprio cesto foi ela que forrou e coseu uma bolsinha para guardar miudezas.

A hipoglicemia eu curei-a com açucar e hidratos de carbono lentos, as dores menstruais agora resumem-se a uma moinha, destas duas coisas só ficou o corpo moído e cansado.
A minha amiga deixou-me em casa, eu nem a convidei a entrar, sou uma pessoa horrível.

Porque o correcto era eu inventar uma história que metesse um rapaz e um futuro, chegar a casa e despejar o cesto e pôr todos aqueles objectos a uso, na minha vida do dia-a-dia.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Isto era muito mais divertido quando eu falava de amor

Eu sou raivosa.
Tenho raiva em mim.
E sinto-me poderosa a falar em voz alta, convicta de que tenho razão, convencendo uma audiência que tenho razão, todos a olharem para mim e a achar meu deus, ela tem tanta razão que eu nem consigo desviar a minha atenção das suas palavras tão sábias, tão eloquente e tão interessante e profunda que ela é.

Hoje eu estava toda em tons de verde.
Um horror.

Mas ajudou-me no meu momento de arruaça, à hora de almoço, com as minhas colegas de trabalho rendidas ao meu discurso profissional inflamado (eu nunca te tinha visto assim), em ton sur ton.
É claro que ganhei, não havia nenhum debate, apenas uma tribuna onde eu expus o meu caso com tal vigor, que se fosse preciso, eu só precisava de indicar onde estava a guilhotina e de quem era a culpa.
No final, já a lavar a loiça, eu disse: não se assustem, eu não vou bater em ninguém, eu até estou toda da mesma cor.

Mas a vontade era muita.
Eu tenho medo de mim nesse aspecto.
Não sou violenta, não sou conflituosa, nem sequer me defendo como deve ser, não tenho aquelas respostas certas na altura certa, detesto discutir, não sou boa nisso.
Mas se me solta o mau génio, vindo dos meus antecedentes do Casal da Varzea, uns selvagens sem lei, se me solta esse mau génio, eu dou por mim com o dedo no ar a dizer às pessoas o que realmente acho delas.

E toda a gente sabe como isso é um erro.

Não é?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Um post ressabiado: eu até ia escrever sobre a chuva no mato...

As frases que começam por "os homens" começam a soar cada vez melhor aos meus ouvidos.
E isso deixa-me, para além de envergonhada por pertencer a esse grupo que utiliza essa forma de enunciação, deixa-me triste e confusa.

Confusa como uma mulher (rapariga) a quem lhe dizem que o ex namorado, que ela pensava que ainda gostava muito dela (porque ele lho dizia) e que ela lhe tinha destruído a vida, teve pelo menos 3 casos enquanto ela teve 0.
(não é que isto seja um campeonato mas era inevitável a comparação...)

Ora bem, ele até pode dizer: sabes, eu sempre gostei foi de ti.
Mas essa rapariga não vai entender.
Pior, essa rapariga vai dizer: poça, mas isso é fascinante, podes dizer-me o segredo da tua eficácia?
Ele fica triste: não estás a entender, eu nunca deixei de gostar de ti.
E enquanto ele diz isto, vai contando mais outra e outra história que foi tendo: E se achas que tu estás resolvida na minha cabeça, estás enganada.

E quando essa rapariga dá por si, está mesmo irritada porque na verdade até fica mesmo contente por ele estar bem, porque isso significa que afinal ela não é uma destruidora de vidas, mas no fundo ela quer mesmo é bater-lhe, porque ele a confundiu ainda mais.
E um pontapé forte na boca surge como a agressão mais indicada, e quando ele estiver no chão a sangrar e gemer, ela já menos enraivecida vai dizer-lhe:
Eu acho o que eu quiser percebes?

E vai pisar-lhe as mãos com as botas, talvez lhe dê mais uns pontapés, talvez ainda lhe diga espero que corra tudo bem, depois então passa por cima dele e a próxima frase que vai dizer vai começar assim: "os homens..."


E andar no mato à chuva, de galochas, a apanhar bolotas é muito melhor que aturar estas conversas de merda.
Detesto que me conspurquem a vida.