É humilhante confessar que não se tem ninguém para ir ao cinema ou ao IKEA.
Lisboa não é uma cidade acolhedora e propícia para fazer amigos.
Fazer amigos é muito difícil.
E agora chove sem parar e a roupa não seca há 3 dias.
Quando cheguei do Natal, escorria água das minhas paredes, e mudei finalmente a lâmpada da cozinha, que piscava psicadelicamente desde o Verão.
Fiz vida de solteira, de mulher independente financeiramente, com problemas familiares e corporais, como presumo que as mulheres solteiras de 30 anos tenham.
A coisa boa foi que a minha franja cresceu, já não tem aquele ar demasiado moderno que tanto me irritava.
Não tivesse hoje um jantar (já demasiadas vezes adiado), pegava nas minhas coisas e voltava ao quintal, trepava a uma laranjeira e fazia um sumo para o lanche, para mim e para as crianças.
Amanhã é a merda da passagem de ano e já sinto o stress e a depressão características da altura.
No Natal, mandei um mail ao catalão porque eu quero (e quero mesmo) reconciliar-me com toda a gente.
Por um motivo muito simples: eu não lido bem com pessoas que não gostam de mim. Não gostar não é indiferença, mas antes pensarem mal de mim.
Pensarem mal de mim faz-me achar que falhei como pessoa de bem.
Por isso mandei-lhe um mail muito simples, para "sermos amigos" (ok, aqui era sem duvida um exagero, o que eu queria dizer era "não me odeies") e ele disse que claro que sim, que podíamos ser amigos, que resolveu coisas na cabeça dele e que a "nossa situação" era normal e humana, e que não tinha importância quando comparada com a situação de algumas pessoas com quem ele tinha estado e que vivem neste momento uma situação horrível na Espanha.
Mas o que é que o cu tem a ver com as calças, valha-me Deus?
Entendi então que eu é que tenho que deixar de odiar ou então aprender a praguejar em catalão, mas não vale o esforço.
Se calhar não é deixar de odiar porque para mim é indiferente e talvez seja isso que me custa a aceitar, é que me seja indiferente. Tenho medo que seja uma indiferença superficial e que tenha traumas alojados naquela parte do cérebro que funciona pela meia noite e meia de algumas noites menos simpáticas, em que tenho a nítida sensação que sou ridícula e tenho dentes amarelos e uma vida falhada que espero que ninguém descubra ou, se descobrir, tenha a delicadeza de não abordar o assunto.
São quase 17h desta tarde de 30 de Dezembro e eu penso em acabar com este blog.
A bomba, a casa, parecem-me questões pouco importantes comparando com algumas situações que observo em Portugal e no meu peito.
Em 2010, vou tentar lembrar-me que não morri ainda.
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