domingo, 10 de janeiro de 2010

Bolo de aniversário

O bolo é daqueles molhados.
É muito fácil de fazer, bate-se tudo bem batido, leva nozes e raspa de laranja e depois no final espeta-se o bolo todo e molha-se com sumo de laranja bem adoçado.
Como não leva muito açúcar, é perfeito para fazer de modo light, com adoçante.

Pois.

Ficou uma merda.
Duro, mal batido, sem a margarina, esquecida na taça, já derretida, sem a raspa da laranja, posta de parte, fora do cesto da fruta.
Intragável, vergonhoso.
Ali está ele, pronto a ir para o lixo ("deus me perdoe"  - digo sempre "deus me perdoe" quando deito restos fora), ao pé do lava loiça, com o sumo de laranja super adocicado ainda no espremedor, mesmo assim ainda estava um pouco ácido (este ano as laranjas da baía não estão muito boas), e eu com a cara a 5cm do bolo, a suspirar, a examinar como a massa ficou nojenta, a concluir que não sou boa a fazer bolos, a cozinhar, a fazer chá, a escolher fruta e legumes (eu trago alguns tocados porque me faz impressão que os deitem fora "deus me perdoe"), a fazer a cama, a fazer vestidos, tivesse eu 21 anos ou então 35 e diria aquilo que já disse algumas vezes, mas não exactamente neste contexto do bolo molhado de laranja e nozes, e que é "sou uma merda".

"Sou uma merda".
É uma expressão profundamente desesperada que, se acompanhada de uma forte expiração, produz imediatamente um:
"Não és nada",
acompanhado, por sua vez, de uma festa no ombro ou antebraço, depende da posição em que se estiver.


Mas há uma outra expressão que duas pessoas de diferentes espaços da minha vida (familiar e laboral) utilizam com alguma frequência e, e isto é o mais interessante para mim, o fazem num mesmo contexto, que é o relativo ao "medo de caras feias".
A expressão é, por exemplo:
- Ela viu-me de manhã, mal me falou, nem bom dia, e disse Temos que falar. E eu "CAGARI CAGARÓ", estive mesmo para lhe dizer que não tenho medo de caras feias.
Ou então:
- Eles começaram a dizer-me para eu não sair porque estava mau tempo e eu nem tinha ninguém com quem ir mas "cagari cagaró", peguei no carro e fui na mesma.

E eu, mal ouvi isto, "cagari cagaró", fiquei a pensar sobre isso.

Ao que parece, "cagari cagaró", usa-se quando alguém ou uma situação ou mesmo o mundo inteiro é hostil e parece que quer assustar com ameaças de coisas más que vão acontecer, fazendo "caras feias" e a pessoa que se vê ameaçada, não tem medo algum e não se preocupa sequer com isso, e então diz "cagari cagaró".

"Cagari cagaró" é uma formula mágica que, embora confesse que foneticamente não me agrade muito, vou passar a utilizar, pois parece resultar.
As pessoas que a utilizam dizem-me que "caras feias não me assustam" e eu borro-me de medo de "caras feias", aliás, se me querem ver quase a chorar, é fazerem-me uma cara feia.

Mas agora já sei: cagari cagaró, e pronto!

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