Este blog acabou porque me enjoa.
domingo, 31 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
Porque gosto eu de Vampire Weekend
Ah os rapazes de Ciência Política.... lavadinhos e cheirosos ma non troppo, com as suas caras de quem foi bem tratado na infância, com cremes da Avene e banhos diários com bons produtos, eficazes e hidratantes, rapazes nascidos já a meio da década de 80, com conhecimentos geográficos de causa, experiências de viagens acumuladas com naturalidade, como se toda a gente conhecesse São Paulo ou Paris; os meus preferidos são os educados, que dizem "com certeza" e "teor", lêem bons livros, autores convenientes, cultura alternativa admitida como a única possível, mas com aquele twist da ciência política, sabem falar sobre governança, Pippa Norris, Carl Schmitt, populismo e falam inglês fluentemente.
Parecem anjinhos, sentados a ler, são quase todos fumadores e têm mochilas caras.
Eu, confesso com algum pudor que já vai desaparecendo, que sempre que aparece um novo eu fico a olhar para ele, a pensar como seria se ele colorisse um pouco a minha solidão.
Nunca poderia ser nada muito sério, embora, francamente, para pouco sério preferia outra coisa que não ciência política, e também porque a pele deles é melhor que a minha, porque em certos dias eu cheiro mal e nunca fui ao Brasil ou Roménia, e tenho um cateter na nádega direita com um tubo e uma bomba de insulina e nem todos os dias isso é charmoso ou atraente.
Além de que gosto de jantar às 20h e essa é a hora os meninos de ciência política devem estar numa tertúlia qualquer a falar sobre coisas que não me apetece muito elencar agora.
Duas coisas importantes:
1 - Num livro do Douglas Coupland, ele fala sobre como não nos prepararam para a solidão que eventualmente sentimos quando adultos. E eu tenho pensado sobre isso e inquiri algumas pessoas que têm maridos \ amigos \ companheiros \ filhos e supostamente não se deveriam sentir sós mas elas dizem-me que também dão por elas sozinhas e eu não as esbofeteio porque deve ser verdade.
A solidão é como quando chove muito e as estradas estão prestes a ser cortadas e uma pessoa vê-se no meio um grande lago onde era uma faixa de rodagem e pensa se deve avançar ou não mas não há nada a fazer porque estamos no carro e o carro é para andar e então eu acho que o meu pai tem razão:
- Nestes dias assim de chuva, se te vires no meio da água, o importante é nunca deixar de acelerar, entendes?
Entendo.
Entendido.
2 - Há uns dois anos atrás levei uma tampa de um rapaz de ciência política e, nesse mesmo dia, fui ao concerto dos Vampire Weekend e dancei muito. Foi bom.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Bolo de aniversário
O bolo é daqueles molhados.
É muito fácil de fazer, bate-se tudo bem batido, leva nozes e raspa de laranja e depois no final espeta-se o bolo todo e molha-se com sumo de laranja bem adoçado.
Como não leva muito açúcar, é perfeito para fazer de modo light, com adoçante.
Pois.
Ficou uma merda.
Duro, mal batido, sem a margarina, esquecida na taça, já derretida, sem a raspa da laranja, posta de parte, fora do cesto da fruta.
Intragável, vergonhoso.
Ali está ele, pronto a ir para o lixo ("deus me perdoe" - digo sempre "deus me perdoe" quando deito restos fora), ao pé do lava loiça, com o sumo de laranja super adocicado ainda no espremedor, mesmo assim ainda estava um pouco ácido (este ano as laranjas da baía não estão muito boas), e eu com a cara a 5cm do bolo, a suspirar, a examinar como a massa ficou nojenta, a concluir que não sou boa a fazer bolos, a cozinhar, a fazer chá, a escolher fruta e legumes (eu trago alguns tocados porque me faz impressão que os deitem fora "deus me perdoe"), a fazer a cama, a fazer vestidos, tivesse eu 21 anos ou então 35 e diria aquilo que já disse algumas vezes, mas não exactamente neste contexto do bolo molhado de laranja e nozes, e que é "sou uma merda".
"Sou uma merda".
É uma expressão profundamente desesperada que, se acompanhada de uma forte expiração, produz imediatamente um:
"Não és nada",
acompanhado, por sua vez, de uma festa no ombro ou antebraço, depende da posição em que se estiver.
Mas há uma outra expressão que duas pessoas de diferentes espaços da minha vida (familiar e laboral) utilizam com alguma frequência e, e isto é o mais interessante para mim, o fazem num mesmo contexto, que é o relativo ao "medo de caras feias".
A expressão é, por exemplo:
- Ela viu-me de manhã, mal me falou, nem bom dia, e disse Temos que falar. E eu "CAGARI CAGARÓ", estive mesmo para lhe dizer que não tenho medo de caras feias.
Ou então:
- Eles começaram a dizer-me para eu não sair porque estava mau tempo e eu nem tinha ninguém com quem ir mas "cagari cagaró", peguei no carro e fui na mesma.
E eu, mal ouvi isto, "cagari cagaró", fiquei a pensar sobre isso.
Ao que parece, "cagari cagaró", usa-se quando alguém ou uma situação ou mesmo o mundo inteiro é hostil e parece que quer assustar com ameaças de coisas más que vão acontecer, fazendo "caras feias" e a pessoa que se vê ameaçada, não tem medo algum e não se preocupa sequer com isso, e então diz "cagari cagaró".
"Cagari cagaró" é uma formula mágica que, embora confesse que foneticamente não me agrade muito, vou passar a utilizar, pois parece resultar.
As pessoas que a utilizam dizem-me que "caras feias não me assustam" e eu borro-me de medo de "caras feias", aliás, se me querem ver quase a chorar, é fazerem-me uma cara feia.
Mas agora já sei: cagari cagaró, e pronto!
É muito fácil de fazer, bate-se tudo bem batido, leva nozes e raspa de laranja e depois no final espeta-se o bolo todo e molha-se com sumo de laranja bem adoçado.
Como não leva muito açúcar, é perfeito para fazer de modo light, com adoçante.
Pois.
Ficou uma merda.
Duro, mal batido, sem a margarina, esquecida na taça, já derretida, sem a raspa da laranja, posta de parte, fora do cesto da fruta.
Intragável, vergonhoso.
Ali está ele, pronto a ir para o lixo ("deus me perdoe" - digo sempre "deus me perdoe" quando deito restos fora), ao pé do lava loiça, com o sumo de laranja super adocicado ainda no espremedor, mesmo assim ainda estava um pouco ácido (este ano as laranjas da baía não estão muito boas), e eu com a cara a 5cm do bolo, a suspirar, a examinar como a massa ficou nojenta, a concluir que não sou boa a fazer bolos, a cozinhar, a fazer chá, a escolher fruta e legumes (eu trago alguns tocados porque me faz impressão que os deitem fora "deus me perdoe"), a fazer a cama, a fazer vestidos, tivesse eu 21 anos ou então 35 e diria aquilo que já disse algumas vezes, mas não exactamente neste contexto do bolo molhado de laranja e nozes, e que é "sou uma merda".
"Sou uma merda".
É uma expressão profundamente desesperada que, se acompanhada de uma forte expiração, produz imediatamente um:
"Não és nada",
acompanhado, por sua vez, de uma festa no ombro ou antebraço, depende da posição em que se estiver.
Mas há uma outra expressão que duas pessoas de diferentes espaços da minha vida (familiar e laboral) utilizam com alguma frequência e, e isto é o mais interessante para mim, o fazem num mesmo contexto, que é o relativo ao "medo de caras feias".
A expressão é, por exemplo:
- Ela viu-me de manhã, mal me falou, nem bom dia, e disse Temos que falar. E eu "CAGARI CAGARÓ", estive mesmo para lhe dizer que não tenho medo de caras feias.
Ou então:
- Eles começaram a dizer-me para eu não sair porque estava mau tempo e eu nem tinha ninguém com quem ir mas "cagari cagaró", peguei no carro e fui na mesma.
E eu, mal ouvi isto, "cagari cagaró", fiquei a pensar sobre isso.
Ao que parece, "cagari cagaró", usa-se quando alguém ou uma situação ou mesmo o mundo inteiro é hostil e parece que quer assustar com ameaças de coisas más que vão acontecer, fazendo "caras feias" e a pessoa que se vê ameaçada, não tem medo algum e não se preocupa sequer com isso, e então diz "cagari cagaró".
"Cagari cagaró" é uma formula mágica que, embora confesse que foneticamente não me agrade muito, vou passar a utilizar, pois parece resultar.
As pessoas que a utilizam dizem-me que "caras feias não me assustam" e eu borro-me de medo de "caras feias", aliás, se me querem ver quase a chorar, é fazerem-me uma cara feia.
Mas agora já sei: cagari cagaró, e pronto!
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