segunda-feira, 22 de março de 2010

You tube >> Glee cast >> listas de reprodução -- porque detesto aqueles 3% de realidade

Há que saber desenvolver obsessões.
O melhor é alguém que trabalhe num sítio frequentado, com horários estabelecidos e de acesso público.
O nível de complexidade, e também de exigência, aumenta à medida em que vamos ficando mais velhos.

Penso que o ideal é ter sempre uma ou mesmo duas obsessões (em diferentes sítios da cidade) para aqueles momentos em que é preciso que a nossa cabeça se distraia com literatura de cordel.
97% das coisas que se passam na minha vida passam-se na minha cabeça.
É um sítio bonito.

Lembrei-me que desta vez ele podia gostar de azenhas, fazer-me cócegas e dizer boas piadas, teríamos diálogos ao estilo gilmore girls.
Estava eu distraída com estes pensamentos quando apareceu um elegível vestido de beto, com um brinco a destoar, a fumar nervosamente à porta.

Não estivesse eu com pressa, teria começado a fumar mesmo ali. 

97 % acontece tudo na minha cabeça, coisas sórdidas e engraçadas ao mesmo tempo, mas os 3% de hoje foram mais uma prova da existência de um deus que fala comigo mas que eu ainda não entendi bem o que ele diz porque os seus sinais, como botões caídos no chão, pombos a dar linguados, senhoras sem braços e gaguez momentânea, nem sempre são claros para mim.

Estou de mãos no ar a contar como fiquei zonza com a primavera, quando ele se aproxima e eu olho para o ver, mas nem tenho tempo de accionar a minha pródiga imaginação, porque um olá tudo bem saiu-me da boca (pelo menos pareceu-me que isto fez parte da realidade) e o pior foi que teve uma resposta:

- Desculpa, (mão no meu cotovelo) mas eu conheço-te.

Fiquei logo corada, isto supostamente seria tudo na minha cabeça e ainda nem estava decidido se esta personagem ia participar na minha grande narrativa.

Explicou-me que me conhece, andamos juntos na escola, conhecemos a família um do outro.
Eu não o tinha reconhecido...

- Tu estás igual, não mudaste nada.

Quase que me pareceu um elogio, depende se ele se referia a 1995 ou a 1997...
Fui embora a pensar: isto pode ser uma história bonita, digna das que acontecem na minha cabeça mas há qualquer coisa que me está a escapar...


Passaram-se algumas horas.
Telefonei a um familiar.
- Olha, nem sabes quem encontrei e me reconheceu... Sim, sim, esse mesmo... Pois, é engraçado.... Como?.. Ah foi? Teve agora uma menina, foi?. Pois, já me tinhas dito.. Ah que giro... Pois, é bom menino sim, eu não me lembro bem dele.... Mando cumprimentos teus quando o vir, claro... Vá beijinhos... tenho que ir... ver videos do glee... Sim, glee... é isso mesmo, é dessas bandas esquisitas que eu costumo ouvir.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Porque é que os bróculos me sabem a mar?

Um dos meus sites preferidos é o site da meteorologia.
Visito-o com muita frequência, há sempre novidades e uma sensação de redução à dimensão humana apenas comparável às horas dedicadas na escola primária à disciplina de meio físico e social.
O www.meteo.pt situa-me.


Um dos meus momentos preferidos é quando me deito no final do dia e solto um suspiro sonoro profundo, fecho os olhos e endireito a minha região sacro ilíaca, até ela ficar confortável e indolor.

Tenho andado a pensar

(quer dizer na verdade pensei nisso umas 4 vezes ao todo mas quando penso numa mesma coisa mais do que 3 vezes, acho que já posso dizer "tenho andado a pensar em" e não "já pensei que")

em escrever a um dos irmãos de Taizé a dizer-lhe que muita gente fala comigo sobre como se sentem sozinhos e sem amigos.

Eu própria tenho andado a pensar sobre a solidão (e aqui esta expressão não podia ser melhor utilizada, já que penso nisto em continuo) já há uns bons meses.

Não cheguei a conclusão nenhuma.

No outro dia, houve reunião de serviço e, numa situação que não me apetece contar, eu achei-me completamente sozinha e incompreendida, como uma adolescente fechada no quarto a ouvir música, ou como uma adulta fechada no quarto a ouvir musica.

E então desci a rua e fui ao jardim (a ouvir musica) e vi dois pombos a dar um beijo com língua.
Inicialmente, pensei que só a minha mente influenciável e influenciada por romances de cordel veria naquele abocanhar mútuo um linguado à moda antiga e deixei-me estar um bom bocado a olhar para eles, que continuavam nuns amassos impressionantes.
Depois, o pombo saltou para cima da pomba e pronto, foi mesmo ali na parte mais desabrigada do jardim do Campo Grande que consumaram o seu amor, restaurando a minha fé nos ensinamentos da natureza.
Ao subir novamente a rua para voltar ao trabalho, ainda parei a observar um melro mas nem sempre se pode ter sorte e já se sabe que os melros só sabem é escolher as cerejas melhores para eles, deixando as piores para as crianças.

Por breves instantes, antes de me lembrar de como às vezes olho para mim de fora e faço um esgar de ligeiro enjoo que permanece por uns dias, desejei ter um blog para poder falar sobre a vida sexual dos pombos e os bróculos que me sabem a pirolitos do mar do algodio.