Há que saber desenvolver obsessões.
O melhor é alguém que trabalhe num sítio frequentado, com horários estabelecidos e de acesso público.
O nível de complexidade, e também de exigência, aumenta à medida em que vamos ficando mais velhos.
Penso que o ideal é ter sempre uma ou mesmo duas obsessões (em diferentes sítios da cidade) para aqueles momentos em que é preciso que a nossa cabeça se distraia com literatura de cordel.
97% das coisas que se passam na minha vida passam-se na minha cabeça.
É um sítio bonito.
Lembrei-me que desta vez ele podia gostar de azenhas, fazer-me cócegas e dizer boas piadas, teríamos diálogos ao estilo gilmore girls.
Estava eu distraída com estes pensamentos quando apareceu um elegível vestido de beto, com um brinco a destoar, a fumar nervosamente à porta.
Não estivesse eu com pressa, teria começado a fumar mesmo ali.
97 % acontece tudo na minha cabeça, coisas sórdidas e engraçadas ao mesmo tempo, mas os 3% de hoje foram mais uma prova da existência de um deus que fala comigo mas que eu ainda não entendi bem o que ele diz porque os seus sinais, como botões caídos no chão, pombos a dar linguados, senhoras sem braços e gaguez momentânea, nem sempre são claros para mim.
Estou de mãos no ar a contar como fiquei zonza com a primavera, quando ele se aproxima e eu olho para o ver, mas nem tenho tempo de accionar a minha pródiga imaginação, porque um olá tudo bem saiu-me da boca (pelo menos pareceu-me que isto fez parte da realidade) e o pior foi que teve uma resposta:
- Desculpa, (mão no meu cotovelo) mas eu conheço-te.
Fiquei logo corada, isto supostamente seria tudo na minha cabeça e ainda nem estava decidido se esta personagem ia participar na minha grande narrativa.
Explicou-me que me conhece, andamos juntos na escola, conhecemos a família um do outro.
Eu não o tinha reconhecido...
- Tu estás igual, não mudaste nada.
Quase que me pareceu um elogio, depende se ele se referia a 1995 ou a 1997...
Fui embora a pensar: isto pode ser uma história bonita, digna das que acontecem na minha cabeça mas há qualquer coisa que me está a escapar...
Passaram-se algumas horas.
Telefonei a um familiar.
- Olha, nem sabes quem encontrei e me reconheceu... Sim, sim, esse mesmo... Pois, é engraçado.... Como?.. Ah foi? Teve agora uma menina, foi?. Pois, já me tinhas dito.. Ah que giro... Pois, é bom menino sim, eu não me lembro bem dele.... Mando cumprimentos teus quando o vir, claro... Vá beijinhos... tenho que ir... ver videos do glee... Sim, glee... é isso mesmo, é dessas bandas esquisitas que eu costumo ouvir.
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