quarta-feira, 30 de junho de 2010
Não era bem isto que queria escrever
Sussurrou-me ela:
- Senti uma dor muito forte quando ele estava em cima de mim, tentei aguentar até se despachar mas não deu, só me apetecia gritar, sabe?
- O que é que a vida não nos tira?
Disse eu, a abanar a cabeça.
Ela foi chamada e entrou para a consulta.
Eu fiquei a pensar que tudo o que tenho de bom pode morrer.
Ela tinha prazer e deixou de ter, tudo o que eu tenho pode ser-me retirado pela vida.
Pensei que o mais sensato é então gozar enquanto posso. Mas viver no presente nem sempre é a minha vocação.
Deve haver alguma coisa que a vida não pode tirar.
Dei-me ao trabalho de fazer uma lista mental de "coisas importantes" clássicas - andar a pé, a família, a amizade, a criatividade, a tv cabo, a música, o café, mas pode tudo acabar, pode tudo morrer.
Senti-me como se tivesse 8 anos e tivesse feito uma grande descoberta, como quando há 20 anos finalmente consegui deslocar a pedra que estava lá ao fundo do quintal e encontrei um ninho de cobras.
Tenho uma leve suspeita que poderei encontrar alguma resposta para esta questão na religião (ou a ver o Glee) mas foi num outro sítio que encontrei conforto.
Eu ia dormir com os pés sujos e com uma t shirt a cheirar mal porque na verdade eu estava muito deprimida e deixei-me fluir na imundície.
Mas decidi que não, pés sujos não, levantei-me, lavei os pés, mudei para outra camisa de noite, e olhei para minha cabeceira.
Lá estava a salvação !
O senhor Paulo Camilo morou nesta minha casa e deixou-me uma herança - recebo o catálogo da Dmail.
Sim, folheando o catálogo fiquei novamente com vontade de viver.
Sonhei que em vez do ninho de cobras, eu encontrava debaixo daquela pedra uma criatura sardenta a nascer no meu jardim.
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