domingo, 29 de junho de 2008

Um par para o baile

Chegou a hora do baile e eu queria ter um par para dançar.

De facto, convém escolher um namorado que não se importe de dançar quando é preciso.

A hora do baile nos casamentos é, para mim, muito importante.

É a que me deixa mais pensativa.

Porque a parte de atirar o bouquet já foi desmistificada, já perdeu seriedade, pronto, já não mete medo a ninguém.

Agora dançar no baile do casamento… isso sim, mete respeito. Não é para brincadeiras.

Os casais dançam juntos, as pessoas ficam de fora a observar, por fora parece que acham tudo normal mas eu sei que é através do modo como eles dançam que se vê se eles andam felizes um com o outro ou não.

Os mais atrevidos até poderão aproveitar essa ocasião para desenvolver algum engate iniciado ali no casamento ou ainda antes.

E ainda há uma questão muito importante para mim: é que se come muito nos casamentos e se uma pessoa dançar, sempre fica menos indisposta, ajuda a esmoer e a controlar a glicemia.

Mas eu… serei sempre a amiga/prima afastada/filha do primo/etc, com as roupas esquisitas (segundo dizem porque não é verdade) que é bem disposta e boa pessoa mas que, dado que é a Madalena, ninguém está à espera que apareça com um namorado que dance.

Um dia ainda os hei-de surpreender a todos eles, a todos os familiares e a todos os amigos da rede social da minha terra, e hei-de chegar à hora do baile com um rapaz pouco mais alto que eu, nem magro nem gordo, sem ter cabelo esquisito, vestido normalmente, já de casaco tirado (porque a essa hora já os homens andam todos de camisa), sem estar bêbado mas sem ser dos sóbrios ostensivos, um rapaz que já tenha travado conhecimento com os presentes, que já saibam o nome dele, e ele e eu vamos de mão dada, com ele à frente, até ao sítio onde se dança.

E depois começamos a dançar e ninguém olha como se fosse estranho.

Ninguém vai estranhar porque é só um casal jovem a dançar, parecendo ser felizes, ele a segurar com firmeza nela, dançam bem mas não bem demais, sabem o que estão a fazer, ela a deixar-se levar por ele, às vezes ele diz qualquer coisa e ela lança a cabeça para trás e ri, outras vezes metem-se com os restantes pares e geram simpatia sem forçar, e no final de duas ou três musicas, já cansados, ele, a brincar, fá-la girar, agarra-a contra ele e faz como nos musicais, ela dobra-se para trás, ele beija-a, riem-se com a brincadeira e regressam ao lugar deles, passando pela rapariga excêntrica que os estava a observar como se fosse tudo muito estranho.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

BombAmor

Havia em cor de rosa choque, havia em azul metalizado, havia tanslucida... eu fiquei com a cinzenta.

APETECE-ME DIZER MUITAS ASNEIRAS QUANDO PENSO NISTO MAS NÃO O VOU FAZER

Pus uma bomba infusora de insulina paradigm 722 e apaixonei-me por ela, logo na primeira noite, quando era hora de dar a minha sexta injecção do dia e não tive que o fazer, porque tinha a minha querida bomba.
Eu amo a minha bombinha porque, mesmo habituada, afinal doia-me e eu já nem sabia que me doía. E isso é o pior que nos pode acontecer, nós já nem sabermos quando e quanto dói.


Aqui está ela, ligada por um tubo que está ligado a um reservatório de insulina que está ligado a um cateter que eu inseri no meu corpo e que então liga a bomba a mim.

Ando sempre com ela.
A bomba é boa companhia, eu às vezes falo com ela:

- Bombinha, eu sei que começámos um pouco mal por tu não seres colorida mas agora estamos unidas e sabes de coisas que mais ninguém sabe.
Já foste comigo a muitos sítios, vais a todos o lado onde vou. Mas também eu não sou assim muito viajada, não é?
Talvez, bombamor, este verão te leve a Marrocos. Que te parece, xuxu?

Às vezes vais numa coxa mas tu não gostas assim muito da coxa esquerda, pois não? Escorrega mais, não é fofinha?
Pois, deixa, eu ponho-te mais na direita que a mim também me dá mais jeito.

E, bombinha, gostas quando eu ponho o sensor que mede em permanência a minha glicémia através do liquido intersticial? Eu sei que gostas e eu até vou pôr um sensor dentro em breve mas, bombita, sabes que as empresas de dispositivos médicos não podem andar assim a dar sensores, essas coisas são caras...

E eu sei, bomba, que tu tens que ser forte quando as pessoas olham para ti com aquele ar de quem está a conhecer uma versão ultrafeminina do robocop...
Eu sei, meu doce, que não é fácil, bem ouço os teus suspiros de impaciência.
Mas repara, quando vês uma pessoa na rua com uma garrafa de oxigénio também olhas assim com um misto de horror e pena (e eu sei que tu não te dás nada bem com bolhas de ar, desculpa estar a ser tão directa, mas não dás mesmo).

Toma mais um beijinho nesses botõezinhos tão resistentes, minha lindeza, eu sei que te levei à praia e que tu, minha marota, ias fazendo com que as cuecas do meu biquini caissem com o teu peso.
Mas eu prometo que te vou arranjar uma bolsinha para te proteger do calor e para não andares desnuda no meio da areia

Pronto, agora vamos dar um bolus para comer o iogurte, estou orgulhosa de ti, bombamor, porque me aguentaste neste dia quando só me apetecia saber o que dizer e não sabia.
Parece-me, amor de bomba, que eu colho o que semeio e que tenho que começar a semear coisas boas.
Mas, sobretudo, coisa boa da minha vida, que eu percebo muito pouco de hortaliça...


Ai que querida, a bomba está a dizer-me que gosta de mim mas preferia que eu fosse cor de laranja...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Acho que o jantar correu bem mas


A sobremesa tinha gelatina a mais, estava muito dura.

A massa tinha soja a mais, estava muito escura.

Eu tenho pressa a mais, estou muito triste.

O stripper Claudio despertou em mim sentimentos maternais ou a primeira conversa a sério sobre a bomba

Na noite em que assisti pela primeira vez a um show de strip (é uma longa história que se pode resumir no seguinte: a minha amiga que vai casar sábado é educadora de infância e foi marcar mesa para a sua despedida de solteira num restaurante de uma senhora que é mãe de um menino de quem ela toma conta. e quando fez a marcação disse que queria alguma animação - e depois do jantar o stripper Cláudio - que nos disse o seu verdadeiro nome porque pensava que nós eramos hospedeiras da TAP - fez um show de strip integral. a mãe escondeu tudo dos olhos do seu filho, para que ele não visse a sua educadora dar tautau no rabiosque depilado de um senhor vestido de marinheiro)

Como estava eu a dizer, nessa noite, finalmente alguém me fez uma pergunta inteligente sobre a a bomba (de insulina).

Eu levava umas calças (as unicas que tinha em casa que já não é a minha casa mas que continua a ser A casa) e então via-se o cateter.
Formou-se o grupinho habitual em meu redor: ah, e o que é? e tens há quanto tempo? o que é isso? e dói? e como fazes para comer? e já não tens que te picar? e tens que andar sempre com isso?

Eu lá ia explicando, bla bla bla, e uma amiga minha, que estava calada durante o meu discurso só me disse, muito preocupada:

-Mas como é que fazes quando estás na cama com o teu namorado?

Abracei-a.

- Tiro a bomba, ponho a capsula e espero que corra tudo bem. Mas desde que pus a bomda ainda não foi preciso...

- Olha, isso é que é pior! - disse ela.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A Alemanha não perdeu 3-0?

Portugal perdeu 3-2 com a Alemanha.
Este Europeu foi semelhante a um desgosto amoroso onde não houve grande empenho.

É tão parecido que até criei um blog.

Para falar desse desgosto, desse affair onde me empenhei tão pouco.
Como o Ricardo na defesa.

Assim estou aqui a ouvir Magnetic Fields (meu deus, magnetic fields após perder com a Alemanha!), a curtir o desgosto da perda.

Afastei-me do mundo, pus aquela cara, o casaco de andar por casa, isto é mesmo um desgosto amoroso, isto é mesmo um jogo onde tu jogas bem, bem bonito mas tens falhas onde não podes falhar.

Estamos a perder 3-1 e eu penso: se eu preciso de chorar, agora é uma boa altura.

Em vez disso, trabalhei um bocado, sem grande stress.
É uma prova, não é? em como eu não estava assim tão empenhada com a selecção.

Ah mas a prova maior foi que, mal o jogo acabou, eu abri a janela e olhei para a rua e pensei: pah, como é que ficará esta rua quando o Benfica ganhar o campeonato?
Mal acabei de sofrer com um, penso logo no seguinte...
E continuam as semelhanças com os desgostos amorosos.

Também não vou mandar sms charmosas (as minhas sms charmosas sou eu a dizer coisas que me parecem engraçadas e que não incluem asneiras por termos perdido nem nada disso, coisas sérias, que demonstram como consigo ser espirituosa sem asneirar).
Não vou não.

Portanto, isto é um desgosto amoroso.
Se eu estou a ponderar sms e pesar prós e contras, é um affair por resolver.

Mas se eu estou a pensar no Benfica mal acabou a selecção, não havia assim tanto empenho.

Pior, isso se calhar está em toda a minha vida: falta de empenho.

É isso mesmo, eu não estou empenhada em ser fixe.
Reparem, as minhas sandálias fazem com que a unha do dedo grande do meu pé esquerdo fique negra.


Esta foto demonstra desde logo o meu gosto extraordinário para escolher papel de parede, e mostra depois como os meus pés são feios e como eu, ao publicar esta foto, estou a arriscar poder deixar de me preocupar com empenho e charme devido ao asco que estou a causar em muita gente.


E eu não tenho paciência para cortar as unhas dos pés.
Deixo sempre chega-las até ao exagero do comprimento.
Mas porque raio só essa unha é que fica suja?
(Eu sei, as outras não estão muito melhores - quando eu tiver uma máquina fotográfica boa, eu tiro para se ver bem como aquela fica muito mais negra que a outra).


E se eu estivesse empenhada estaria a pensar numa sms bem inteligente para enviar mas, ao invés, estou a pensar nas borbulhas que tenho que parecem mesmo picadas.
Mas será que eu trouxe pulgas para a minha nova casa?
Mas se eu estava a pensar nisso porque me fui lembrar do contacto via telemóvel?

A Alemanha por acaso não perdeu 3-0 e acabou com o meu sofrimento, pois não?