sábado, 11 de abril de 2009

Isaías descreveu tudo muito bem mas afinal eles eram quackers

As celebrações a meio da tarde têm a vantagem de ter uma luz muito doce a incidir sobre os primeiros bancos em frente do altar.



Dei por mim a contar os jardins que aparecem na história da páscoa de Jesus.

São alguns, com certeza que já há estudos teológicos sobre isso.E esses estudos com certeza que precisarão o porquê destes jardins.

Toda a poesia das orações de hoje acaba por meter lá coisas como árvores e lenhos de onde sai a salvação. Madeiro, alámo, jasmim, lenho, jardim para estar com amigos, jardim para rezar, jardim para suar sangue, jardim para morrer, jardim para dizer o que é preciso ser dito.





Também eu adoro jardins.

Quem não gosta?





A intensidade narrativa da sexta feira santa, onde as narrações do processo de condenação e morte do galileu arruaceiro são suficientes para me entreter a cabeça e o coração por completo, é um pouco diferente deste sábado, quando ele está morto e sepultado, e desce à "mansão dos mortos".

"Em paz me deito e adormeço tranquilo", que frase mais simples e bonita.

É uma linguagem que eu gosto muito, enfim, eu sou uma religiosa sentimental e romântica.




No jantar após o dia da conferência em Bologna, estavam sentados ao meu lado um casal de Lincoln - ela conferencista, ele marido dela, professor de ciências, alemão radicado em Inglaterra.
Eu já tinha gostado deles mas àquela hora, com a mesa cheia de queijo e presunto e poucos vegetais, eu com vontade de ir fazer xixi mas o banco era corrido e eu estava a meio de uma mesa cheia de gente e estava mesmo presa, não estava com grande capacidade de conversar.
Bom, àquela hora eu queria ir andar um pouco a pé e depois recolher aos meus aposentos.

Foi quando ele me perguntou se eu era católica porque estava a tentar fazer um paralelismo entre Portugal e a Baviera - eu achei que era uma piada muito boa mas ele estava mesmo a falar a sério.
Sim, sou católica e esta hungara que está aqui ao meu lado é luterana apesar de na hungria a maioria ser católica. O espanhol à minha frente acho que não é nada mas tem um anel cachucho muito estranho, o melhor é nem perguntar. O francês é um sociólogo do Maio de 68, não quero ser preconceituosa mas cheira-me que é ateu, bem como esse jovem realizador italiano e esse historiador muito famoso e simpático da Puglia.

Eu já tinha reparado que o casal de Lincoln era casado (isto é, tratavam-se como husband and wife) mas que a aliança deles era diferente.
Portanto, das duas uma: ou tinham a mania das diferenças e portanto escolheram alianças que mais ninguém usa, ou são de uma religião qualquer cujos casamentos se querem diferenciar dos católicos com alianças trabalhadas, o que acho muito bem, que isto de uma pessoa olhar e poder ver logo com o que conta, é o melhor da vida para uma pessoa como eu, que se baseia muito nos sinais e nas intuições que em geral falham mas que tornam o exercicio da especulação gratuita uma arte de viver.

Mas bom, eu perguntei se ele era católico, ele disse que já foi mas que tinha o problema da guilt, eu disse, pois isso é uma chatice, mas o ratzi é um anormal, não achas? Todos concordamos.
Até que ele disse: somos quackers.
E eu fiquei radiante, nunca tinha conhecido nenhum, disse eu, estou muito feliz por conhecer finalmente um casal de quackers.
Apeteceu-me abraça-los.
Mas depois a conversa até estava boa mas eu ainda não tinha ido à casa de banho e estava a ficar maldisposta.
Disse: tenho que ir apanhar e nunca mais os vi, mesmo após ele me ter dito que o melhor de ter deixado de ser católico e de se ter tornado quacker foi já não sentir a guilt.

Pois mas e os quackers também falam de jardins onde se cortam orelhas?

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