segunda-feira, 6 de julho de 2009

Quando eu vier de Londres e MiddleScreen, serei uma pessoa melhor

- Ele acha-te "extraordinariamente bonita"... "extraordinariamente bonita" - repeti eu, tentando imitar o tom de deleite que ele usou para caracterizar esta rapariga.

Ela riu-se, eu acho que ela estava contente por ele a achar bonita, ela não quer nenhum tipo de romance com ele, ela é bem casada mas fez um sorriso de contentamento, como se estivesse a olhar ao espelho e descobrisse que a blusa que usava lhe ficava mesmo bem.

Uma outra (éramos 4, íamos levantar dinheiro para pagar o jantar) disse:
- Ah isso é óptimo, faz muito bem à auto estima de uma mulher ouvir isso.

Eu concordei, pois faz, "extraordinariamente bonita" num tom de deleite.
Mas a 4ª rapariga do grupo explicou-nos logo que isso era uma coisa portuguesa:
-Ah! - espantei-me eu - no estrangeiro as pessoas não têm problemas de auto estima?

Ela explicou-me, e até fez sentido para mim, que não era bem isso mas antes que as pessoas tinham menos necessidade de ouvir piropos, não ligavam tanto a isso e eram mais seguras, menos ligadas ao que os outros pensam.


Eu depois pensei que nos filmes americanos de amor, há sempre uma altura em que ele diz a ela que ela é beautiful, e depois ela faz exactamente o mesmo sorriso de contentamento que esta rapariga "extraordinariamente bonita" fez.


Eu tinha o rabo maior.
Por isso, como íamos 5 raparigas e um rapaz a conduzir, uma delas disse-me para eu ir à frente e perguntou-me o numero das calças porque lhe parecia óbvio que eu era a mais gorda.
Eu disse: é o 40.
Elas olharam para mim e eu disse: ah, sim mas de nós as 4 sou eu que tenho o rabo maior, sem duvida alguma, por isso eu vou à frente.

Durante a curta viagem de carro, já não sei bem como começamos a falar nisso, dei por mim a desfiar o meu rosário de doenças, captando a atenção e pena de todas elas e dele também.
Acho que passaram a respeitar-me mais e já não fizeram mais piadas sobre o meu rabo.

Depois eu pensei - penso nisso algumas vezes por mês - que as pessoas que não têm formatos (fisicos e psicológicos) standard (que caibam nas roupas ou nos jantares de grupo que existem no mercado) têm que arranjar estratégias de defesa para não a vida do dia a dia não ficar cheia de humilhações.

Eu acabo por caber bem em todo o lado mas também tenho as minhas estratégias - claro, eu sei, de uma certa forma toda a gente as tem.

Provavelmente, no estrangeiro as coisas não se passam assim.

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