- Eu levo-te aos Olivais para entenderes como se engata, mas tens que ir vestida como eu mandar! Mostrar mais as pernas, e um bocado mais das mamas, assim como quem diz "anda cá tocar-me". Se virmos aí alguma dessas que andam assim, eu mostro-te como é.
Contou-me algumas piadas porcas, alguns ditos populares ordinários, mostrou-me mails e mais mails de miúdas com as quais ele se corresponde, utilizando, mais ou menos, sempre a mesma conversa. Em geral elas não caem, diz-me ele, mas há uma delas que se apaixonou loucamente, deixando o namorado e a casa que tinha comprado e estava a mobilar para se vir encontrar com ele.
Os mails dela são ela a confessar como nunca sentiu nada assim. Ele diz que esta conversa dela o está a fazer ter cada vez menos interesse mas que...
- Eu sou ela. Eu costumo ser ela, costumo ser o que está apaixonado. Por isso, agora que estou eu numa situação de poder, vou aproveitar. É a primeira vez que sou eu que tenho o poder. E ela tem muita sorte porque eu sou boa pessoa, se eu fosse outro abusava do corpo dela de todas as maneiras possíveis. Ela tem muita sorte porque eu trato bem as pessoas. Além de que eu nem sei se ela deixou mesmo o outro gajo, ela também pode estar a mentir, e querer um amante. Pelas costas dos outros, vêem-se as nossas...
Eu suspirei e disse:
- Ao menos usa protecção, nessas tuas aventuras.
Esta frase deu origem a um longo monólogo sobre experiências sexuais, que eu prefiro guardar para quando tiver um blog só sobre isso.
É que, às tantas, eu já estava nauseada e então vasculhei no meu baú de pensamentos melancólicos - caixa onde guardo várias coisas que me vão surgindo e que ali ficam para eu ir pensando nelas quando, por exemplo, não estou com vontade de falar sobre engates e preservativos.
Ocupei a minha cabeça com dois outros pensamentos, a saber: a autocomiseração e a vergonha de gostar.
Autocomiseração:
não tenho grande coisa a dizer, apenas acho que às vezes - pronto, muitas vezes - tenho esse problema, o qual me bloqueia. Portanto, vou escrever num papelinho que um dos meus compromissos para este Advento será deixar de ter tanta pena de mim. Isto terá também consequências sobre o meu próximo, portanto vou considerá-lo como um compromisso para comigo e para com os outros, já que, reduzindo a minha autocomiseração, terei mais comiseração para dar aos outros.
Vergonha de gostar dos outros:
novamente, também não tenho grande coisa a dizer. Lembrei-me disto porque às vezes eu tenho tanta vergonha de gostar tanto das pessoas que as começo a detestar. Assim, vou escrever num outro papelinho, será o meu segundo compromisso neste Advento, que vou aceitar amar.
Estes papelinhos, vou enrolá-los e serão as palhinhas para o menino Jesus.
Maranatha!
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Country feedback: esta música faz-me sempre tremer
É logo nas primeiras páginas que ele fala de como se anda a esquecer das coisas.
Velchaninov diz, mais ou menos, que apagou coisas da memória e que isso está relacionado com o seu estado depressivo.
Pois, pensei eu, é isto mesmo.
Apagar coisas da memória.
Eu faço isso.
Foi como quando a Licinha partiu uma pata e eu perguntei mas como é que isto aconteceu e a minha tia não sabia, não se lembrava.
E a minha mãe, sentada na beirinha da poltrona azul, dizia-me, de olhos fitos no tapete, sou eu que vou ter que sozinha arranjar uma forma de conviver com isto.
O livro, a vida real, e a minha imaginação prodigiosa, levam-me a concluir que, muito provavelmente, eu arranjei uma forma de lidar com certos acontecimentos - em especial traumas amorosos e problemas de relacionamento - apagando-os por completo da minha memória.
Apago e, se por um acaso qualquer, como uma ida ao facebook ou um cheiro num casaco ou mesmo uma conversa, eu recordo por momentos o que aconteceu é tudo muito estranho e assustador.
E mais: se eu me ponho a tentar lembrar de muita coisa, por exemplo, no que diz respeito a relações amorosas, eles, os objectos, misturam-se num só rapaz, num só corpo, com a mesma barriga e a mesma pele, os braços, as vozes ao ouvido, e tudo o resto, é uma grande mistura e eu já não sei que parte pertence a que corpo e a que época da minha vida.
Agora.... quer isto dizer que não sou uma cabra rancorosa?
Claro que não quer dizer nada disso, porque eu sou uma cabra rancorosa!
E tenho dias mundiais da sinceridade, em que, com requintes de malvadez, atinjo todos os que me magoaram com tiros certeiros ao rim, onde dói mais, pois a minha inteligência emocional também me habilita a ser má.
A Licinha foi atropelada pelo aspirador Rainbow e só acabou o tratamento ontem.
Foi isso que aconteceu.
Velchaninov diz, mais ou menos, que apagou coisas da memória e que isso está relacionado com o seu estado depressivo.
Pois, pensei eu, é isto mesmo.
Apagar coisas da memória.
Eu faço isso.
Foi como quando a Licinha partiu uma pata e eu perguntei mas como é que isto aconteceu e a minha tia não sabia, não se lembrava.
E a minha mãe, sentada na beirinha da poltrona azul, dizia-me, de olhos fitos no tapete, sou eu que vou ter que sozinha arranjar uma forma de conviver com isto.
O livro, a vida real, e a minha imaginação prodigiosa, levam-me a concluir que, muito provavelmente, eu arranjei uma forma de lidar com certos acontecimentos - em especial traumas amorosos e problemas de relacionamento - apagando-os por completo da minha memória.
Apago e, se por um acaso qualquer, como uma ida ao facebook ou um cheiro num casaco ou mesmo uma conversa, eu recordo por momentos o que aconteceu é tudo muito estranho e assustador.
E mais: se eu me ponho a tentar lembrar de muita coisa, por exemplo, no que diz respeito a relações amorosas, eles, os objectos, misturam-se num só rapaz, num só corpo, com a mesma barriga e a mesma pele, os braços, as vozes ao ouvido, e tudo o resto, é uma grande mistura e eu já não sei que parte pertence a que corpo e a que época da minha vida.
Agora.... quer isto dizer que não sou uma cabra rancorosa?
Claro que não quer dizer nada disso, porque eu sou uma cabra rancorosa!
E tenho dias mundiais da sinceridade, em que, com requintes de malvadez, atinjo todos os que me magoaram com tiros certeiros ao rim, onde dói mais, pois a minha inteligência emocional também me habilita a ser má.
A Licinha foi atropelada pelo aspirador Rainbow e só acabou o tratamento ontem.
Foi isso que aconteceu.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Mudando agora de assunto: e a queda do muro de Berlim?
Ele disse-me uma vez que eu devia tirar um retrato para registar a minha bela juventude.
Eu primeiro achei uma idiotice que resolvi ignorar mas lembro-me às vezes dessa sugestão.
Eu vi uma pessoa morrer há um ano atrás.
Vi o corpo a morrer hora a hora.
E era uma pessoa que eu amava.
Hoje ainda não consigo falar nisso.
Em 1986, e nos anos que se seguiram, havia muitos jogos e livros para crianças relativos à Europa.
Num dos natais desses anos, eu ganhei um livro sobre a construção da Europa, onde havia umas folhas em branco para colar fotos e registar acontecimentos europeus.
De maneira que, quando o muro de Berlim caiu, em 1989, eu recortei uma notícia de jornal e colei nesse livro.
Tinha 8 anos e lembro-me que me sentei no corredor da minha casa a fazer isso. Foi divertido porque recortar era uma actividade que sempre me agradou.
Eu gostava de ter fotos minhas que registassem coisas boas.
Fui eu que escolhi a foto que está na campa da minha avó.
É uma foto tirada no casamento da minha irmã, tirada minutos após a minha irmã nos ter dado a todas as mulheres da família um raminho de flores, juntamo-nos ao pé do canteiro de flores perto do baloiço e lá estamos nós, muito felizes.
Penso que é a única foto no cemitério em que o defunto está a rir.
A 9 de Novembro de 2007, pelas 17h, nascia a minha segunda sobrinha.
E há uma foto, tirada umas duas horas depois, em que estou eu, a minha irmã, a minha sobrinha mais velha e a recém nascida, todas felizes, a olharmos umas para as outras e para o bébé ao mesmo tempo.
Eu pergunto à minha médica:
- Mas se calhar isso onde me dói são pontos sensíveis que doem a toda a gente se forem pressionados.
- Não, não é suposto doer. Só te doem a ti, porque estão inflamados.
A vida não é suposto doer, a não ser que esteja ferida.
Eu primeiro achei uma idiotice que resolvi ignorar mas lembro-me às vezes dessa sugestão.
Eu vi uma pessoa morrer há um ano atrás.
Vi o corpo a morrer hora a hora.
E era uma pessoa que eu amava.
Hoje ainda não consigo falar nisso.
Em 1986, e nos anos que se seguiram, havia muitos jogos e livros para crianças relativos à Europa.
Num dos natais desses anos, eu ganhei um livro sobre a construção da Europa, onde havia umas folhas em branco para colar fotos e registar acontecimentos europeus.
De maneira que, quando o muro de Berlim caiu, em 1989, eu recortei uma notícia de jornal e colei nesse livro.
Tinha 8 anos e lembro-me que me sentei no corredor da minha casa a fazer isso. Foi divertido porque recortar era uma actividade que sempre me agradou.
Eu gostava de ter fotos minhas que registassem coisas boas.
Fui eu que escolhi a foto que está na campa da minha avó.
É uma foto tirada no casamento da minha irmã, tirada minutos após a minha irmã nos ter dado a todas as mulheres da família um raminho de flores, juntamo-nos ao pé do canteiro de flores perto do baloiço e lá estamos nós, muito felizes.
Penso que é a única foto no cemitério em que o defunto está a rir.
A 9 de Novembro de 2007, pelas 17h, nascia a minha segunda sobrinha.
E há uma foto, tirada umas duas horas depois, em que estou eu, a minha irmã, a minha sobrinha mais velha e a recém nascida, todas felizes, a olharmos umas para as outras e para o bébé ao mesmo tempo.
Eu pergunto à minha médica:
- Mas se calhar isso onde me dói são pontos sensíveis que doem a toda a gente se forem pressionados.
- Não, não é suposto doer. Só te doem a ti, porque estão inflamados.
A vida não é suposto doer, a não ser que esteja ferida.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Chattanooga Choo Choo
Eles dizem-me muitas vezes que eu só os estou a deixar porque ainda não percebi o que é o amor.
Daí a começarem a dizer que eu ando à procura do príncipe encantado vão uns 15 minutos se estivermos num sítio agradável. Mas se estivermos ao ar livre, e estiver frio, eles demoram menos que 5 minutos a falar nisso.
Penso que é porque gostam muito de mim.
E eu sei bem o que é isso de gostar de alguem: é um martírio. Ficamos totalmente desgovernados.
Ser correspondida torna-se numa obsessão, vive-se num desespero e numa inquietação permanentes e há um ponto de tensão - que mais tarde reconhecemos como o ponto da estupidez - em que nos parece que ofender o outro é o passo mais lógico a seguir.
E eu sou insegura e quando me dizem que sabem o que é o amor eu penso: bom, eu faço uma ideia do que seja o amor mas esta pessoa que está diante de mim parece ter muito mais certezas que eu por isso até se calhar o melhor é ouvi-lo com atenção.
Mas depois, possivelmente quando já estão muito fartos de "lutar contra mim" (expressão que também é frequente usarem comigo), falam nisso do príncipe encantado, com um tom ligeiramente insultuoso e com alguma arrogância à mistura, como se me estivessem a dizer:
Tu achas que vais encontrar melhor do que isto que nós temos mas não vais.
O problema não está no facto de não gostares de mim, o problema está em achares que sabes do que gostas.
Mas sei: gosto do Glenn Miller!
Daí a começarem a dizer que eu ando à procura do príncipe encantado vão uns 15 minutos se estivermos num sítio agradável. Mas se estivermos ao ar livre, e estiver frio, eles demoram menos que 5 minutos a falar nisso.
Penso que é porque gostam muito de mim.
E eu sei bem o que é isso de gostar de alguem: é um martírio. Ficamos totalmente desgovernados.
Ser correspondida torna-se numa obsessão, vive-se num desespero e numa inquietação permanentes e há um ponto de tensão - que mais tarde reconhecemos como o ponto da estupidez - em que nos parece que ofender o outro é o passo mais lógico a seguir.
E eu sou insegura e quando me dizem que sabem o que é o amor eu penso: bom, eu faço uma ideia do que seja o amor mas esta pessoa que está diante de mim parece ter muito mais certezas que eu por isso até se calhar o melhor é ouvi-lo com atenção.
Mas depois, possivelmente quando já estão muito fartos de "lutar contra mim" (expressão que também é frequente usarem comigo), falam nisso do príncipe encantado, com um tom ligeiramente insultuoso e com alguma arrogância à mistura, como se me estivessem a dizer:
Tu achas que vais encontrar melhor do que isto que nós temos mas não vais.
O problema não está no facto de não gostares de mim, o problema está em achares que sabes do que gostas.
Mas sei: gosto do Glenn Miller!
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