Ele disse-me uma vez que eu devia tirar um retrato para registar a minha bela juventude.
Eu primeiro achei uma idiotice que resolvi ignorar mas lembro-me às vezes dessa sugestão.
Eu vi uma pessoa morrer há um ano atrás.
Vi o corpo a morrer hora a hora.
E era uma pessoa que eu amava.
Hoje ainda não consigo falar nisso.
Em 1986, e nos anos que se seguiram, havia muitos jogos e livros para crianças relativos à Europa.
Num dos natais desses anos, eu ganhei um livro sobre a construção da Europa, onde havia umas folhas em branco para colar fotos e registar acontecimentos europeus.
De maneira que, quando o muro de Berlim caiu, em 1989, eu recortei uma notícia de jornal e colei nesse livro.
Tinha 8 anos e lembro-me que me sentei no corredor da minha casa a fazer isso. Foi divertido porque recortar era uma actividade que sempre me agradou.
Eu gostava de ter fotos minhas que registassem coisas boas.
Fui eu que escolhi a foto que está na campa da minha avó.
É uma foto tirada no casamento da minha irmã, tirada minutos após a minha irmã nos ter dado a todas as mulheres da família um raminho de flores, juntamo-nos ao pé do canteiro de flores perto do baloiço e lá estamos nós, muito felizes.
Penso que é a única foto no cemitério em que o defunto está a rir.
A 9 de Novembro de 2007, pelas 17h, nascia a minha segunda sobrinha.
E há uma foto, tirada umas duas horas depois, em que estou eu, a minha irmã, a minha sobrinha mais velha e a recém nascida, todas felizes, a olharmos umas para as outras e para o bébé ao mesmo tempo.
Eu pergunto à minha médica:
- Mas se calhar isso onde me dói são pontos sensíveis que doem a toda a gente se forem pressionados.
- Não, não é suposto doer. Só te doem a ti, porque estão inflamados.
A vida não é suposto doer, a não ser que esteja ferida.
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1 comentário:
Não existem fotos como as da família Reis. Demonstram muito bem a alegria de quem gosta de estar em família. Não me esqueço da foto em que os irmãos estão perto da bebé a apontar. É um clássico.
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