quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quinta-feira da Ascensão: somewhere there’s a room for each of us to grow.

- E pensavas que ias estar assim aos 30?
- Acho que ainda não estamos alcoolizadas o suficiente para essa conversa.

Calamo-nos todos.
Já tinham passado algumas horas de casamento, aguardávamos a carne de javali e não restava muito assunto.
O sol punha-se na serra lá ao fundo, no final das mesas.

Esqueci-me de calçar as sandálias douradas de casamento, altas e desconfortáveis e estava confortavelmente calçada com umas outras malcheirosas e largueironas, a fazer uma figura como se eu fosse freak.
As colegas que estavam comigo tinham dado conta mas não disseram nada, porque devem ter achado que foi de propósito.

Depois veio a conversa da idade e mal eu disse aquilo de não estarmos alcoolizados, vi que não era bem o tipo de piada que ia fazer alguém rir.
Ia preparada para ser a mais desgraçada mas não sei se foi porque elas estavam com sapatos desconfortáveis e, por isso, a sofrer mais, mas pareceram-me tão frágeis e vulneráveis quanto eu.
Talvez menos espirituosas.

Passou mais um casamento, foi de amor, isso é bonito.
E agora e sempre este país, aqui à minha frente, aqui à frente de todos nós, como um problema por resolver todas as manhãs quando acordamos, como um país pobre que se acode a vender autocolantes no final da missa, como a casa dos pobres sem o desafogo que o dinheiro traz, aqui à minha frente, eu a olhar para ele como um transtorno psicológico, e uma sensação de que não vivo aqui mas ali, ali num sítio de onde vejo este país ao longe, notícias e opiniões, não estou suficientemente alcoolizada para estas conversas.

Quinta feira de Ascensão e às 15h Jesus sobe aos céus e apanhamos a espiga - o mais difícil é arranjar as espigas e também que as papoilas aguentem o caminho. Os malmequeres é muito fácil, arranjam-se bem.
Telefona-me a minha mãe, muito contente porque consegui insultar o Jorge Lacão na feira.
É feriado na minha terra.


Não falamos mais sobre ter 30 anos.
Isso afinal interessa a quem, interessa porquê?
Enquanto falo sobre isso passa a minha flor da idade e eu sem furar as orelhas.

1 comentário:

Liliana disse...

a piada era fácil e engraçada... o público é que não era o certo.