Tive uma cacta chamada Cíntia.
Chamei-lhe assim porque ela cintilava ao sol.
Era muito fofinha e eu dava-lhe muitos beijinhos.
Era uma excelente conversadora.
Não me lembro que idade tinha eu, 13 anos talvez.
Levava-a para todo o lado.
As pessoas achavam um bocado estranho mas não se desmanchavam.
- Que cacto tão lindo que trazes aí!
- É uma cacta!!
A Cíntia foi brutalmente assassinada pela cadela Nikita, que agora tem cataratas e está cega de uma vista. Os seus dentes estão a cair e está num estado entre asqueroso e deprimente, tadita.
Ter a Cíntia do meu lado era ter força, ela era uma soldada, o meu braço direito na guerra da vida.
Agora tenho uma planta que a L. me deu, com flores brancas muito lindas, e um vaso onde plantei agriões, outro com salsa que espero que cresça e outro ainda com uma batata doce, de onde brotam folhas verdes em abundância luxuriante.
Falei hoje com a minha avó sobre hortelã e avenca e outras plantas mas ela disse-me que "isso não eram assuntos para se tratar por telefone".
Se eu sair de casa alguns dias, vou levar as minhas plantas comigo, para elas tomarem conta de mim.
Por isso, Petit, pensa bem no que estás a fazer ao ires embora assim.
Toda a gente precisa de um pitbul na sua equipa ou de uma cacta na sua vida.
Toda gente deve ter uma cacta chamada Cíntia, um Petit na sua equipa, uma avó a falar apenas em agudos, um sofá para ver televisão, um bidé para o que der e vier, um copo de água, um pacote de lenços, uma rua para andar, um abraço quando o Benfica marca, uma porta para fechar com força, uma carícia matinal, salsa, louro, coentros, sal, alho, limão, cobertores, leques e tapetes fofos, toda a gente deve ter um amor correspondido para protecção e bem estar.