terça-feira, 29 de julho de 2008

Sem ti na minha equipa sinto-me desprotegida Cíntia Petit




Tive uma cacta chamada Cíntia.
Chamei-lhe assim porque ela cintilava ao sol.
Era muito fofinha e eu dava-lhe muitos beijinhos.
Era uma excelente conversadora.
Não me lembro que idade tinha eu, 13 anos talvez.

Levava-a para todo o lado.
As pessoas achavam um bocado estranho mas não se desmanchavam.
- Que cacto tão lindo que trazes aí!
- É uma cacta!!

A Cíntia foi brutalmente assassinada pela cadela Nikita, que agora tem cataratas e está cega de uma vista. Os seus dentes estão a cair e está num estado entre asqueroso e deprimente, tadita.

Ter a Cíntia do meu lado era ter força, ela era uma soldada, o meu braço direito na guerra da vida.

Agora tenho uma planta que a L. me deu, com flores brancas muito lindas, e um vaso onde plantei agriões, outro com salsa que espero que cresça e outro ainda com uma batata doce, de onde brotam folhas verdes em abundância luxuriante.
Falei hoje com a minha avó sobre hortelã e avenca e outras plantas mas ela disse-me que "isso não eram assuntos para se tratar por telefone".

Se eu sair de casa alguns dias, vou levar as minhas plantas comigo, para elas tomarem conta de mim.


Por isso, Petit, pensa bem no que estás a fazer ao ires embora assim.
Toda a gente precisa de um pitbul na sua equipa ou de uma cacta na sua vida.

Toda gente deve ter uma cacta chamada Cíntia, um Petit na sua equipa, uma avó a falar apenas em agudos, um sofá para ver televisão, um bidé para o que der e vier, um copo de água, um pacote de lenços, uma rua para andar, um abraço quando o Benfica marca, uma porta para fechar com força, uma carícia matinal, salsa, louro, coentros, sal, alho, limão, cobertores, leques e tapetes fofos, toda a gente deve ter um amor correspondido para protecção e bem estar.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Peso 64 kg: so what?



No programa da Tyra Banks que hoje está a passar na Sic Mulher, acho que combinaram vir todas de vermelho.
A Tyra engordou e falou disso na revista People.
E então estão muitas senhoras de fato de banho comprido, vermelho, e com o peso escrito a branco.
Todas elas estão muito contentes porque a Tyra disse que pesava 73 kg mas que se sentia hot na mesma.
Gritam: as minhas coxas roçam uma na outra, so what? E todas batem palmas.
Também eu estou muito feliz.

Este programa é fabuloso, mas eu sou facilmente impressionavel.

Doi-me a cabeça, não me sinto nada hot.

Passo muitas horas com valores baixos de glicemia, sem fazer descidas nem hipoglicemias mas mantendo sempre glicemias baixas durante a tarde, porque a bomba estabiliza os valores.

Ora isso, para além de dar uma valente enxaqueca, dá-me uma moleza muito grande.

Eu e a minha bomba estamos cansadas, e um bocado desanimadas, mas a Tyra disse que é importante fazer uma alimentação saudável e, ao mesmo tempo, devemos deixar que o nosso marido nos leve a um bufete e podemos repetir o prato e mandar um video para o programa dela.

Estas senhoras todas vestidas de maillot vermelho deram-me alento para amanhã ir trabalhar de cabeça erguida.
É que as minhas coxas também roçam uma na outra e, para alem disso, eu gosto de tirar macacos do nariz.

Vou enviar um video de mim a tirar macacos e a coçar-me à Tyra.
Pode ser que me convidem para o seu programa, de maillot cor de rosa.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sempre quis ser escriturária e levar almoço todos os dias para o serviço

Eu não percebi que nota tive na avaliação de desempenho no meu serviço (gosto de dizer no meu serviço, sinto-me parte de qualquer coisa que não sei bem explicar o que é mas é reconfortante).

Quando o chefe me chamou a segunda coisa que pensei (a seguir a dar graças a deus que por não lhe ter atendido o telefone a dizer o que foi agora cacete) foi: merda, logo hoje que estou com as mamas à mostra, merda, mas porque é que eu resolvi armar-me em despudica e não vesti um top que me tornasse mais condigna.

Lá fui eu, lá ouvi o que ele tinha para dizer, alguns excelentes nas relações interpessoais, ele ia falando coisas desinteressantes e eu tentando acompanhar a minha avaliação. Mas era muito aborrecido.

Depois ele disse: agora as coisas vão mudar e o comportamento e atitude já não vão ter uma avaliação própria (eu isso retive: tou lixada, eu sou mesmo boa é em sorrir para as pessoas e falar sobre futebol com o senhor Dias da secção de pessoal e sobre gatos com a Celeste das edições e sobre qualquer coisa com o Zé da contabilidade. Cubro muito bem variados assuntos, mantenho uma conversa espirituosa, sem maltratar nem melindrar ninguem, por vezes armo-me em integra e mando umas bocas com ar sério mas isso é só para me dar algum carisma e nem sequer acho que funcione, as pessoas tendem a ignorar-se umas às outras, acho isso muito saudável).

Eu vou escolher consigo, continuou ele, 5 (acho que eram 5) dentre esta lista de 17 (que numero tão estupido, 17, será que eram mesmo 17, era uma lista numa folha A4 e pareceu-me ouvir um 17) competências para a avaliarmos no proximo ano. Isto para além dos objectivos quantitativos que a sua chefe já me entregou (ora aí está, assim é que é fixe: se eu tiver quantidades para atingir eu sinto-me muito mais motivada).
Se não concordarmos, disse ele, eu é que escolho.
Eu ri-me, pensei que era uma piada mas ele acrescentou com voz grave:
Não se ria, é assim mesmo que está na lei.
E eu endireitei-me na cadeira e puxei o decote pra cima.

E pensei: pah, se calhar agora era uma boa altura para lhe dizer que eu consigo beber uma garrafa de água de (pelo menos) 0,75 l de penalti e não fico mal disposta - essa podia ser uma das minhas competências.

Autonomia no desempenho das minhas funções?

Não, não, eu prefiro um campeonato de quem é que almoça mais rápido (lavar a tupperware incluido).
Eu ganho, chefe, quantifique-me isso que eu excedo o cumprimento dos objectivos.

Queria continuar a fazer piadas acerca das competências pelas quais vou ser avaliada mas eu não me lembro de nenhuma.

Lembro-me que o chefe disse que gostavam de mim desde o princípio e que eu era um elemento valioso na equipa (vim a descobrir que ele disse isso a toda a gente, fiquei destroçada - mas porque é que me partem o coração assim?)

Mas sim, eu sou valiosa e por isso, para corresponder, chefe eu vou assinar por baixo deste texto que dita que, no ano de 2008, a funcionária madalena vai:

- beber uma garrafa de 1,5l de água de penalti sem deitar nenhuma gota fora
- almoçar, lavar a loiça e conviver com os colegas em apenas 9min

Em Janeiro nos encontraremos novamente, terminou ele, gostei muito deste bocadinho.
Não o vou desiludir chefe.

domingo, 13 de julho de 2008

Lutar por um beijo mais puro



Quando ele me confirmou que estava apaixonado por outra, eu fui à casa de banho, fechei a porta e pus os braços contra ela como se estivesse a assegurar-me que ninguém entrava.

Os acontecimentos que sucederam a esse momento na casa de banho, comigo a respirar fundo e a querer ser mulherzinha, foram muitos e rápidos mas resume-se a isto:

Vou-me afastar, disse-lhe eu a ele.

E pronto.

Acabou-se esta parvoíce de gastar boas musicas com esta história, que vergonha, que vergonha.
Apaguei as suas mensagens do meu telemovel, pus o seu sobrenome na lista de contactos, tirei-o da minha lista mental de coisas boas, lavei a cara e pensei: talvez fosse melhor arranjar um bocadinho de tempo para verter uma lagrimita.
Acho que o final de um flirt deve terminar com uma lagrimita e depois um sorriso e um sacudir de cabeça para espantar a tristeza.


Mas só hoje, ao dobrar a esquina para o portão do meu quintal, senti os olhos quentes.
As árvores do meu quintal, todas com os olhos postos em mim, meu deus como eu tinha vontade de estar com as minhas árvores, e elas, agitadas, faziam-me festas e diziam: ai miuda mas porque é que tu te esqueces de quem és?
E aí eu verti uma lagrimita.

Entretanto, eu fui a casa buscar os tais lençois de casal.
Pois bem, a minha mãe enganou-se.
Procurei-os em todo o lado...

Voltas e voltas e confirma-se: eu tenho é lençois de solteira.

Mas trouxe ervas e fruta e força e quando ia a sair do quintal eu voltei-me para as minhas amigas árvores e disse:

- De facto, ele era um idiota de merda.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

All my friends will blame you, there's no telling what they'll do



Ai quando os meus amigos virem a minha play list pra esta noite, tu estás bem lixado.

É que eu reuni o meu concílio e foi unânime: o meu coração partiu-se.


I don’t really love you anymore – Magnetic Fields

E quando eles virem a minha cara quando eu falo de ti, a contar os pormenores que não têm interesse para mais ninguém a não ser para mim, aí é que vais ver o que é a força de uma comunidade.

Sweetheart come – Nick Cave

E se eles me vissem hoje a dizer-te, ao sol, “apetece-me tanto bater-te”, quando se via tão bem que eu só queria mesmo era tocar-te, vais pensar duas vezes da próxima vez que fizeres mal a uma rapariga com amigos.

If you’re looking for a way out – Tindersticks

Nem quero pensar quando me encontrarem e me perguntarem como eu estou e disser que estou bem mas depois começo a falar mais e pego no telemóvel e mostro mais uma mensagem e pergunto: estão a ver como é confuso, como às vezes parece mesmo que ele me está a flirtar? Pronto, será altura de ficares com medo de sair de casa.

Last night I dreamt that somebody loved me – The smiths

E os amigos que ainda não souberem da tragédia de tu gostares de outra, eu vou acabar por inserir o assunto numa conversa que nada tenha a ver com isso. E como vai a tese? (não tenho amigos verdadeiros que me perguntem isto mas está bem) e eu respondo: tu nem sabes o que se anda a passar comigo. Há um rapaz que não está apaixonado por mim…

Guess I’m doing fine – Beck

Eu vou contar a toda a gente, pelo menos a umas 5 ou 6 pessoas, como tu me partes o coração sempre que penso que não me queres conhecer no sentido bíblico. Por isso é melhor olhares sempre para os dois lados quando atravessas a rua.

Chaga – Ornatos Violeta

Foge, miúdo, foge desta cidade enquanto é tempo. Partiste-me o coração e eu reuni o concílio e decidimos que é legítimo matar-te, fazer com que te esvaias em sangue, ver-te agonizar como um mártir dos primeiros cristãos, perseguir-te sem que dês conta, arranjar esquemas para te humilhar publicamente, dar-te festinhas, convidar-te para vires comigo a Trás os montes, fazer-te um chá de erva príncipe, pegar em palitos e abrir-te os olhos e dizer-te: é comigo que devias ficar porque…

I’ve got a crush on you – Frank Sinatra

sábado, 5 de julho de 2008

A assustadora clarividência da minha mãe II

A minha mãe respondeu.
Diz que, por erro nosso, os de casal ficaram no armário e vieram os de solteira.
É só ir busca-los, foi só um mal entendido, uma distracção.

Encarei este episódio como um sinal dos céus.

Vou convidar alguém para dançar comigo amanhã.

A assustadora clarividência da minha mãe


Eu tenho um enxoval, que estou a pôr a uso na minha nova casa.
Foi feito ao longo dos anos, a minha mãe arrumava-o num roupeiro.


Mas mãe, porque é que só tenho lençóis de cama de solteira?
Porquê mãe?
(já lhe mandei um sms a perguntar isto mesmo mas ainda não obtive resposta...)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Devia deixar de ler, fico com demasiadas ideias

"Arranhaste-me!
Não, creio que te mordi."

terça-feira, 1 de julho de 2008

Decidir coisas é fixe


Passaram-se já muitos dias sem eu dar por mim a asneirar, bater, insultar ou sequer expressar o meu desejo por algum contacto físico.

Nada disso.

Não me ouviram a mim a dizer “vamos lá acabar com esta merda de flirt e vamos ao que interessa” nem me viram a mim a beliscar umas costas só porque me apeteceu.

Nada disso.

Nem sms convidativas, nem mails longos e lânguidos nem palavras descontroladamente fervorosas nem coisas como tu és mesmo giro nem tu deves beijar bem nem tu és meiguinho.

Nada disso.

Nem mamas nem pernocas nem ombros nem pés nem beijos de língua nem festas no cabelo nem calores na barriga nem ordinarices engraçadas nem cheiro de pele nem abraços longos nem apalpões nem arranhões nem cama nem lençóis nem sestas nem suores nocturnos nem nada, nem pensar, nem pensar!!

Nada disso.

Nem sequer conversas sobre irmos aqui ou ali ou fazermos isto ou aquilo sozinhos nem conversas sobre coisas que poderiam levar à questão inevitável:

- Mas afinal tu gostas de mim ou não?

Nada disso.

Decidi (sim, eu agora acho que posso decidir coisas, é uma nova situação na minha vida) que não é nada disso, nada disso, nada disso.

É outra coisa.

É aquilo.