quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sempre quis ser escriturária e levar almoço todos os dias para o serviço

Eu não percebi que nota tive na avaliação de desempenho no meu serviço (gosto de dizer no meu serviço, sinto-me parte de qualquer coisa que não sei bem explicar o que é mas é reconfortante).

Quando o chefe me chamou a segunda coisa que pensei (a seguir a dar graças a deus que por não lhe ter atendido o telefone a dizer o que foi agora cacete) foi: merda, logo hoje que estou com as mamas à mostra, merda, mas porque é que eu resolvi armar-me em despudica e não vesti um top que me tornasse mais condigna.

Lá fui eu, lá ouvi o que ele tinha para dizer, alguns excelentes nas relações interpessoais, ele ia falando coisas desinteressantes e eu tentando acompanhar a minha avaliação. Mas era muito aborrecido.

Depois ele disse: agora as coisas vão mudar e o comportamento e atitude já não vão ter uma avaliação própria (eu isso retive: tou lixada, eu sou mesmo boa é em sorrir para as pessoas e falar sobre futebol com o senhor Dias da secção de pessoal e sobre gatos com a Celeste das edições e sobre qualquer coisa com o Zé da contabilidade. Cubro muito bem variados assuntos, mantenho uma conversa espirituosa, sem maltratar nem melindrar ninguem, por vezes armo-me em integra e mando umas bocas com ar sério mas isso é só para me dar algum carisma e nem sequer acho que funcione, as pessoas tendem a ignorar-se umas às outras, acho isso muito saudável).

Eu vou escolher consigo, continuou ele, 5 (acho que eram 5) dentre esta lista de 17 (que numero tão estupido, 17, será que eram mesmo 17, era uma lista numa folha A4 e pareceu-me ouvir um 17) competências para a avaliarmos no proximo ano. Isto para além dos objectivos quantitativos que a sua chefe já me entregou (ora aí está, assim é que é fixe: se eu tiver quantidades para atingir eu sinto-me muito mais motivada).
Se não concordarmos, disse ele, eu é que escolho.
Eu ri-me, pensei que era uma piada mas ele acrescentou com voz grave:
Não se ria, é assim mesmo que está na lei.
E eu endireitei-me na cadeira e puxei o decote pra cima.

E pensei: pah, se calhar agora era uma boa altura para lhe dizer que eu consigo beber uma garrafa de água de (pelo menos) 0,75 l de penalti e não fico mal disposta - essa podia ser uma das minhas competências.

Autonomia no desempenho das minhas funções?

Não, não, eu prefiro um campeonato de quem é que almoça mais rápido (lavar a tupperware incluido).
Eu ganho, chefe, quantifique-me isso que eu excedo o cumprimento dos objectivos.

Queria continuar a fazer piadas acerca das competências pelas quais vou ser avaliada mas eu não me lembro de nenhuma.

Lembro-me que o chefe disse que gostavam de mim desde o princípio e que eu era um elemento valioso na equipa (vim a descobrir que ele disse isso a toda a gente, fiquei destroçada - mas porque é que me partem o coração assim?)

Mas sim, eu sou valiosa e por isso, para corresponder, chefe eu vou assinar por baixo deste texto que dita que, no ano de 2008, a funcionária madalena vai:

- beber uma garrafa de 1,5l de água de penalti sem deitar nenhuma gota fora
- almoçar, lavar a loiça e conviver com os colegas em apenas 9min

Em Janeiro nos encontraremos novamente, terminou ele, gostei muito deste bocadinho.
Não o vou desiludir chefe.

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