A. M.
- Olha para elas, mãe, parecem... vou ter que dizer, parecem mesmo umas galinhas.
Onde é que elas irão?
Domingo de manhã, na feirinha.
Aproximamo-nos.
Beijinho, beijinho, beijinho, beijinho.
- Então os seus filhos?
- Nem sei, ainda devem estar a dormir. Hoje é dia da mulher, vamos todas ali almoçar e eu não fiz nada. Eles que se amanhem, nem a mesa pus, só lhes arranjei os morangos para não dizer que não fiz nada.
F. e L.
- O melhor é não falares mais no assunto e fazeres como te estou a dizer.
- Mas pai...
- Não vale a pena.
Conversei com o meu pai ao telefone, que me notificou de uma decisão que a minha mãe tomou e que, pelos vistos, é irrevogável.
Não gostei, incomodam-me pessoas que não revogam.
Quando está sol, podemos beber o café fora da cozinha.
Café e algumas bebidas digestivas, como Favaios ou Macieira com gelo.
- Pus Favaios a mais no copo.
- Eu bebo um bocadinho.
O meu irmão chegou com um copo de Macieira.
- Também gostas de Macieira, tia?
- Se fosse por gosto, eu seria uma bêbada inveterada. Eu gosto de tudo.
Pegou na camisola e colocou-a na cabeça porque o sol estava muito forte.
Ela lembra-se, e eu também, que foi ela que me comprou a minha Barbie e que eu escolhi a Marina-Hawai porque era a mais barata, o que foi um gesto muito apreciado.
Era uma barbie linda, morena de cabelo preto.
Eu era muito esperta.
E.
- Eu sei que posso parecer antiquada mas nisto eu nunca vou achar de outra maneira: é o homem que deve ir atrás da mulher.
Eu não respondi.
Eu vou atrás dos homens, pensei eu, quando gosto, persigo-os com mails e mensagens, apareço em sitios que sei que vão aparecer porque estudei o seu quotidiano, recolho toda a informação possível sobre eles, googlo tudo o que conseguir, observo os pormenores como sapatos e calças e pastas e pequenos hábitos que, quando estou apaixonada, me aparecem como delícias maravilhosas, surpreendentes e únicas.
Podem ser só lenços de papel, podem ser só defeitos de linguagem ou mesmo maus cortes de cabelo mas tornam-se fenomenos incríveis da natureza.
Enquanto eu pensava sobre isto, todas as mulheres presentes na sala à altura desta conversa, discorriam acerca de caber ao homem andar atrás da mulher, e enquanto falavam sobre isso, sorriam, nervosas, vulneráveis.
Riam-se deles.
M.
Claro, também eu acho que devem ser os homens a investir o seu tempo a arranjar maneiras de me perseguir sem parecer que o estão a fazer de facto.
Mas na verdade, nem eles sonham, mas eu sou muito fácil.
Ainda hoje, foi lá um rapaz ao meu trabalho.
Alto, uma figura um tanto despropositada.
Educado, nada agressivo.
Um ligeiro aspecto de idiota misturado com atrasado mental mas que pode também ser adiantado mental.
Pediu desculpa por me incomodar. Delicado, portanto.
Quando se despediu, disse:
- Então um resto de boa tarde e bem-haja.
Bem-haja.... com que naturalidade ele utiliza esta expressão.
Ele saiu e eu sorri e abanei a cabeça.
Na... desta vez não me apanham assim.
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1 comentário:
estou contigo. Aliás tu sabes, já caí por muito menos... ;)
bj, ana
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