Ia a pensar na estranha insistência das pessoas da cidade em apregoar que o correcto é esterilizar animais como a minha gata Jonas, que emprenham sempre pela altura do cio, quando vi no chão um botãozinho em forma de rosa vermelha, de plástico cor-de-rosa.
Parei, e olhei para ele.
Ele olhou para mim.
Não o apanhei e achei que tinha chegado à idade adulta.
Adulta não, antes medrosa, medricas, mandriona e chata. Não me quis agachar, mexer no chão mas ainda hoje me lembro dele e arrependo-me de não o ter apanhado.
Se calhar o amor é mesmo a Celine Dion a guinchar-me que está ready to learn the power of love de um radio qualquer na Catalunha, eu só ando a ver se me mantenho aberta a todas as inovações, desde que sejam para melhor.
Neste sentido, abro o meu coração à perspectiva de não saber de todo o que é amar, o amor, receber amor, sei lá o que digo, mas sei que até agora até tem estado a ser bom.
Só que em caso de dúvida ou de persistência de certos sintomas deve consultar-se o médico e foi mais ou menos por isto que dei por mim, nessa tarde em que deixei o meu botão de rosa sozinho no chão do jardim do Campo Grande abandonado à sua sorte, a pensar em fazer terapia, eu que nem acredito em terapia, mas agora como ando nesta coisa meio idiota, meio existencialista, meio libertadora, meio assustadora de colocar em causa e relativizar muita coisa que eu achava saber, porque não ir a um terapeuta e dizer-lhe que
suspeito que tenho um problema.
(aqui faço uma pausa e respiro fundo - uso depois as mãos para enfatizar a minha reflexão)
Nos momentos de uma relação em que eu pressinto que é preciso tomar uma decisão que a faça evoluir e a bola está do meu lado, eu bloqueio, ou finjo que bloqueio
(aqui uma risada para induzir o terapeuta a gostar de mim porque eu tenho necessidade que toda a gente goste de mim),
eu sou preguiçosa e vou pelo caminho mais fácil que é terminar tudo, engonhando um bocado antes mas depois acabando com tudo e pronto.
(aqui eu faço uma cara séria e introspectiva, talvez um queixinho a tremer na promessa de uma lágrima e continuo, em jeito de conclusão)
Eu sei. eu sei que que isto de "tomar decisões"
(gesto das aspas)
é uma ilusão, é uma coisa que eu crio na minha cabeça, uma pressão sobre a minha vida...
(talvez aqui o terapeuta queira dizer alguma coisa e por isso calo-me um bocado mas depois continuo)
O melhor é viver, e não meta viver, não é?
(aqui faço um sorriso triste e olho para o infinito e penso, ganhei esta merda toda, ganhei no jogo da terapia, fui mais longe que o terapeuta, com esta do meta viver é que o lixei)
Termina a sessão e vejo que fez efeito quando penso:
Que se lixe, venha o Phil Collins, eu quero ser como a Celine e estar ready para aprender o power do amor, sem que isso me dê vontade de fugir e de rir, não necessariamente por esta ordem.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
O pior mesmo são os educated men
Roslyn: “You don’t like educated women?”
Gay: “They’re all right. Always wanting to know what you’re thinking, that’s all.”
Roslyn: “Maybe they’re trying to get to know you better.”
Gay: “Did you ever get to know a man better by asking him questions?”
Gay: “They’re all right. Always wanting to know what you’re thinking, that’s all.”
Roslyn: “Maybe they’re trying to get to know you better.”
Gay: “Did you ever get to know a man better by asking him questions?”
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Ainda não sei se gosto de Setembro mas acho que sim, que é muito bonito
Elias, que era muito famoso, foi procurar Deus no monte Horeb, que era onde Deus estava sempre.
E depois, pareceu-lhe ouvir qualquer coisa, veio um grande vento mas Deus não estava no vento. E veio um grande fogo mas de Deus nem sinal. Penso que ainda veio uma grande trovoada mas Deus também não estava na trovoada.
Veio depois o silêncio e a brisa e, claro, está-se mesmo a ver que era aí que Deus estava.
Pois nem sempre esta história me parece boa.
Eu dou por mim, quando não estou a tentar encontrar deus mas estou só a tentar resolver problemas emocionais - relações à distância e essas coisas - dou então por mim a fazer caixas de pasteleiro, chapéus, barcos e quantos-queres com bocados de papel que deixo aqui na minha mesa (e até lá no trabalho) para quando começo a ficar ansiosa.
Segundo me explicaram, o cérebro gosta de aprender estas coisas manuais e depois pratica-las.
A mim, acalma-me mas reconheço que me alarmo quando olho para a minha mesa de trabalho cheia de origamis básicos para quem não gosta de origamis mas gosta de fazer trabalhos manuais.
Eu fico nervosa com várias coisas, tenho 28 anos e já arranjei uns lenitivos bem eficazes que me ajudam bastante mas que têm um senão - é o silêncio.
Porque quando eu fico muito nervosa, eu não falo, eu faço caixas de pasteleiro com pedaços do lixo, e faço-as em silêncio, a respirar violência, a sentir um fogo, um trovão e uma ventania daquelas dentro do meu peito e também nas pernas e nos ombros. Nesses momentos, eu visualizo-me a dar pontapés e murros como nos filmes, em geral a vítima é o meu interlocutor, mas se calhar se eu for a ver bem, a vitima sou eu, a primeira a ser agredida sou eu e estou só a defender-me, recortando rectângulos para as caixinhas saírem perfeitas.
Se eu fosse ao monte Horeb, neste dia de sol, eu dizia ao Elias: não achas que esta coisa de escutar o silêncio é uma grande parvoíce? Vamos antes ouvir música. E o Elias dizia-me: sim, mas não me agridas.
E depois, pareceu-lhe ouvir qualquer coisa, veio um grande vento mas Deus não estava no vento. E veio um grande fogo mas de Deus nem sinal. Penso que ainda veio uma grande trovoada mas Deus também não estava na trovoada.
Veio depois o silêncio e a brisa e, claro, está-se mesmo a ver que era aí que Deus estava.
Pois nem sempre esta história me parece boa.
Eu dou por mim, quando não estou a tentar encontrar deus mas estou só a tentar resolver problemas emocionais - relações à distância e essas coisas - dou então por mim a fazer caixas de pasteleiro, chapéus, barcos e quantos-queres com bocados de papel que deixo aqui na minha mesa (e até lá no trabalho) para quando começo a ficar ansiosa.
Segundo me explicaram, o cérebro gosta de aprender estas coisas manuais e depois pratica-las.
A mim, acalma-me mas reconheço que me alarmo quando olho para a minha mesa de trabalho cheia de origamis básicos para quem não gosta de origamis mas gosta de fazer trabalhos manuais.
Eu fico nervosa com várias coisas, tenho 28 anos e já arranjei uns lenitivos bem eficazes que me ajudam bastante mas que têm um senão - é o silêncio.
Porque quando eu fico muito nervosa, eu não falo, eu faço caixas de pasteleiro com pedaços do lixo, e faço-as em silêncio, a respirar violência, a sentir um fogo, um trovão e uma ventania daquelas dentro do meu peito e também nas pernas e nos ombros. Nesses momentos, eu visualizo-me a dar pontapés e murros como nos filmes, em geral a vítima é o meu interlocutor, mas se calhar se eu for a ver bem, a vitima sou eu, a primeira a ser agredida sou eu e estou só a defender-me, recortando rectângulos para as caixinhas saírem perfeitas.
Se eu fosse ao monte Horeb, neste dia de sol, eu dizia ao Elias: não achas que esta coisa de escutar o silêncio é uma grande parvoíce? Vamos antes ouvir música. E o Elias dizia-me: sim, mas não me agridas.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
"Coração de manteiga exposto ao sol"
A frase não é minha, mas é isso mesmo que eu penso quando chega o serão e eu dou por mim a morrer de saudade, como uma personagem de um fado daqueles que dão no programa Alma Lusa, que passa na Antena 1.
Os meus tempos de durona duraram exactamente 23 dias (com alguns dias intercalados em que eu apenas fingia, mas fingia tão bem que até a mim me enganava) e volto agora à minha condição de carente.
Por um lado, há um certo alívio, como quando contamos a verdade a alguém.
Porque a verdade não é o contrário da mentira, a verdade tem a ver com revelação.
Claro está que eu adoraria revelar muita coisa, e cobrir outras com mantas cheias de floreados, que eu sempre adorei inventar histórias.
[Todas as flores que a minha avó cuidava estavam sempre viçosas.
Todas.
Eu estou a tentar que uma violeta africana sobreviva na minha cozinha e que uma batata doce metida em água dê aquelas folhas luxuriantes que tanto gosto.
Quando a minha avó já tinha muitas dores, a minha mãe chegava-se junto a ela e falava-lhe de flores e ela aliviava um pouco.]
Dei-me conta de que ele não estava cá em casa (e nem ia estar mais) numa terça à noite, a fazer xixi. Olhei para a janela e entendi.
Pronto, agora vou lidar com isso da melhor (e única) maneira que sei: deixar o tempo passar.
Vou decorar a letra daquela musica popular do Brasil, que se chama a saudade mata a gente, canta-la às vezes ao longo do dia, encher uma manta de flores e cobrir esta história.
E porque a manteiga não deve estar ao sol, que se estraga, vou pegar nela e coloca-la num lugar fresco e seco.
Nota: quanto ao título deste post, o melhor é ver: http://www.fotolog.com/bonjourtristesse
Os meus tempos de durona duraram exactamente 23 dias (com alguns dias intercalados em que eu apenas fingia, mas fingia tão bem que até a mim me enganava) e volto agora à minha condição de carente.
Por um lado, há um certo alívio, como quando contamos a verdade a alguém.
Porque a verdade não é o contrário da mentira, a verdade tem a ver com revelação.
Claro está que eu adoraria revelar muita coisa, e cobrir outras com mantas cheias de floreados, que eu sempre adorei inventar histórias.
[Todas as flores que a minha avó cuidava estavam sempre viçosas.
Todas.
Eu estou a tentar que uma violeta africana sobreviva na minha cozinha e que uma batata doce metida em água dê aquelas folhas luxuriantes que tanto gosto.
Quando a minha avó já tinha muitas dores, a minha mãe chegava-se junto a ela e falava-lhe de flores e ela aliviava um pouco.]
Dei-me conta de que ele não estava cá em casa (e nem ia estar mais) numa terça à noite, a fazer xixi. Olhei para a janela e entendi.
Pronto, agora vou lidar com isso da melhor (e única) maneira que sei: deixar o tempo passar.
Vou decorar a letra daquela musica popular do Brasil, que se chama a saudade mata a gente, canta-la às vezes ao longo do dia, encher uma manta de flores e cobrir esta história.
E porque a manteiga não deve estar ao sol, que se estraga, vou pegar nela e coloca-la num lugar fresco e seco.
Nota: quanto ao título deste post, o melhor é ver: http://www.fotolog.com/bonjourtristesse
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Como os Smiths apareceram como um pesadelo no meu romance não-indie
Decidi que desta vez, com o catalão, eu ia fazer diferente.
Como o George naquele episódio do Seinfeld em que ele decide fazer o oposto do que costuma fazer.
Mas merda, cometi o erro de levar o leitor de mp3 para o aeroporto, para a minha primeira espera amorosa.
De maneira que vi que o avião tinha aterrado, mas pensei, ah, vou só ouvir mais esta musica, ah, só mais o this year dos mountain goats que é tão energética, ah vou ver se tenho o saturday sun do nick drake.
Bom, depois o telefone tocou e ele já estava perdido perto dos taxis e eu pensei, merda, queria mesmo viver aquele momento em que se levanta o braço, assim de uma forma nervosa, depois antes do encontro ainda há uma rampa, e uma pessoa nem sabe bem o que há-de fazer. Em vez disso, estava distraída a ouvir musica....
Mas sou maravilhosa, sou viva, fresca, sol em Lisboa, sem pensar no futuro, um minuto após o outro, tudo bem, alguns traumas, podem ser marcas como as da igreja de São Domingos, é isso mesmo, estes traumas que ele me causa com as coisas que me diz sobre mim, não são para destruir, são só para fazer de mim uma igreja de São Domingos, são sardas, sardaniscas, pronto, são coisas normais nos relacionamentos. São aquelas coisas que no fundo os homens me costumam dizer, numa altura ou noutra, o que eu acho mesmo mesmo (e sinto o meu ego maroto a sorrir), o que eu acho mesmo é que sou a mais sã deles todos, que eles sim têm traumas e é nesse instante em que se denuncia a fraqueza deles que eu ofereço o meu colo e pronto, ganhei eu.
Enfim, isto para dizer que esteve um sabádo bem lindo, não?
Mas domingo de manhã, sentados no tapete de lã, eu disse uma coisa, ele percebeu outra, a zanga foi feia, não nos entendíamos, ai meu deus que ambiente que se criou, bom, e nisto, ele levanta-se, vai tomar banho, eu suspiro e ponho os braços para trás, a minha mão toca no comando e começa a tocar o that joke isn'y funny anymore em altos berros, e eu tenho uma experiência mística, o comando não apaga aquilo, eu grito, cala-te Morrisey, cala-te por favor, não tens lugar neste romance, sai por favor.
Consegui desligar, quase tive vontade de chorar.
Depois o equívoco de linguagem foi esclarecido, até nos rimos, que domingo mais lindo, granizado e pasteis de Belem, como se eu nem sequer fosse diabética, o taxi que ia tendo um acidente grave, a dança, as fotografias enquanto ele dormia a sesta.

E o melhor disto tudo é como acabou bem.
Porque ele disse que, perante a minha realidade e a história da minha vida, ele entendia que eu não vivesse com os pés do chão, porque eu não me podia dar ao luxo de pôr os pés no chão, mas que assim, como eu vivia - numa realidade distorcida mas intensa - era a maneira melhor para mim.
- Tu deslumbras-me. E quanto a nós, Deus dirá.
E assim, com esta bela conversa de despedida que eu desta forma tão inconfidente e perversa publico aqui no blog, eu nem o contradisse para lhe explicar como os meus pés estão tão enraízados como o tronco de uma acácia, e agora sim, com beijo com língua perto das portas de embarque e sem leitor de mp3 para o regresso (preparo-o agora para amanhã...), eu tive a minha primeira despedida amorosa num aeroporto.
Como o George naquele episódio do Seinfeld em que ele decide fazer o oposto do que costuma fazer.
Mas merda, cometi o erro de levar o leitor de mp3 para o aeroporto, para a minha primeira espera amorosa.
De maneira que vi que o avião tinha aterrado, mas pensei, ah, vou só ouvir mais esta musica, ah, só mais o this year dos mountain goats que é tão energética, ah vou ver se tenho o saturday sun do nick drake.
Bom, depois o telefone tocou e ele já estava perdido perto dos taxis e eu pensei, merda, queria mesmo viver aquele momento em que se levanta o braço, assim de uma forma nervosa, depois antes do encontro ainda há uma rampa, e uma pessoa nem sabe bem o que há-de fazer. Em vez disso, estava distraída a ouvir musica....
Mas sou maravilhosa, sou viva, fresca, sol em Lisboa, sem pensar no futuro, um minuto após o outro, tudo bem, alguns traumas, podem ser marcas como as da igreja de São Domingos, é isso mesmo, estes traumas que ele me causa com as coisas que me diz sobre mim, não são para destruir, são só para fazer de mim uma igreja de São Domingos, são sardas, sardaniscas, pronto, são coisas normais nos relacionamentos. São aquelas coisas que no fundo os homens me costumam dizer, numa altura ou noutra, o que eu acho mesmo mesmo (e sinto o meu ego maroto a sorrir), o que eu acho mesmo é que sou a mais sã deles todos, que eles sim têm traumas e é nesse instante em que se denuncia a fraqueza deles que eu ofereço o meu colo e pronto, ganhei eu.
Enfim, isto para dizer que esteve um sabádo bem lindo, não?
Mas domingo de manhã, sentados no tapete de lã, eu disse uma coisa, ele percebeu outra, a zanga foi feia, não nos entendíamos, ai meu deus que ambiente que se criou, bom, e nisto, ele levanta-se, vai tomar banho, eu suspiro e ponho os braços para trás, a minha mão toca no comando e começa a tocar o that joke isn'y funny anymore em altos berros, e eu tenho uma experiência mística, o comando não apaga aquilo, eu grito, cala-te Morrisey, cala-te por favor, não tens lugar neste romance, sai por favor.
Consegui desligar, quase tive vontade de chorar.
Depois o equívoco de linguagem foi esclarecido, até nos rimos, que domingo mais lindo, granizado e pasteis de Belem, como se eu nem sequer fosse diabética, o taxi que ia tendo um acidente grave, a dança, as fotografias enquanto ele dormia a sesta.
E o melhor disto tudo é como acabou bem.
Porque ele disse que, perante a minha realidade e a história da minha vida, ele entendia que eu não vivesse com os pés do chão, porque eu não me podia dar ao luxo de pôr os pés no chão, mas que assim, como eu vivia - numa realidade distorcida mas intensa - era a maneira melhor para mim.
- Tu deslumbras-me. E quanto a nós, Deus dirá.
E assim, com esta bela conversa de despedida que eu desta forma tão inconfidente e perversa publico aqui no blog, eu nem o contradisse para lhe explicar como os meus pés estão tão enraízados como o tronco de uma acácia, e agora sim, com beijo com língua perto das portas de embarque e sem leitor de mp3 para o regresso (preparo-o agora para amanhã...), eu tive a minha primeira despedida amorosa num aeroporto.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Taizé - o possível é sobrestimado
De modo a registar tudo e a retirar o máximo, eu tentava fazer tirar bons apontamentos no meu coração.
Mas, infelizmente, não sei estenografia, nunca aprendi.
E estou mais habituada a retirar e a comprar do que a receber.
Assim, respirei fundo, abri o coração e recebi.
As pessoas perguntam-me onde estive de férias.
- Estive em Taizé.
- O que é isso?
- É uma aldeia na França.

Mas, infelizmente, não sei estenografia, nunca aprendi.
E estou mais habituada a retirar e a comprar do que a receber.
Assim, respirei fundo, abri o coração e recebi.
As pessoas perguntam-me onde estive de férias.
- Estive em Taizé.
- O que é isso?
- É uma aldeia na França.

http://www.taize.fr/ext/sound/mp3/behute_mich_gott.mp3
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