segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Como os Smiths apareceram como um pesadelo no meu romance não-indie

Decidi que desta vez, com o catalão, eu ia fazer diferente.
Como o George naquele episódio do Seinfeld em que ele decide fazer o oposto do que costuma fazer.

Mas merda, cometi o erro de levar o leitor de mp3 para o aeroporto, para a minha primeira espera amorosa.
De maneira que vi que o avião tinha aterrado, mas pensei, ah, vou só ouvir mais esta musica, ah, só mais o this year dos mountain goats que é tão energética, ah vou ver se tenho o saturday sun do nick drake.

Bom, depois o telefone tocou e ele já estava perdido perto dos taxis e eu pensei, merda, queria mesmo viver aquele momento em que se levanta o braço, assim de uma forma nervosa, depois antes do encontro ainda há uma rampa, e uma pessoa nem sabe bem o que há-de fazer. Em vez disso, estava distraída a ouvir musica....



Mas sou maravilhosa, sou viva, fresca, sol em Lisboa, sem pensar no futuro, um minuto após o outro, tudo bem, alguns traumas, podem ser marcas como as da igreja de São Domingos, é isso mesmo, estes traumas que ele me causa com as coisas que me diz sobre mim, não são para destruir, são só para fazer de mim uma igreja de São Domingos, são sardas, sardaniscas, pronto, são coisas normais nos relacionamentos. São aquelas coisas que no fundo os homens me costumam dizer, numa altura ou noutra, o que eu acho mesmo mesmo (e sinto o meu ego maroto a sorrir), o que eu acho mesmo é que sou a mais sã deles todos, que eles sim têm traumas e é nesse instante em que se denuncia a fraqueza deles que eu ofereço o meu colo e pronto, ganhei eu.

Enfim, isto para dizer que esteve um sabádo bem lindo, não?

Mas domingo de manhã, sentados no tapete de lã, eu disse uma coisa, ele percebeu outra, a zanga foi feia, não nos entendíamos, ai meu deus que ambiente que se criou, bom, e nisto, ele levanta-se, vai tomar banho, eu suspiro e ponho os braços para trás, a minha mão toca no comando e começa a tocar o that joke isn'y funny anymore em altos berros, e eu tenho uma experiência mística, o comando não apaga aquilo, eu grito, cala-te Morrisey, cala-te por favor, não tens lugar neste romance, sai por favor.

Consegui desligar, quase tive vontade de chorar.

Depois o equívoco de linguagem foi esclarecido, até nos rimos, que domingo mais lindo, granizado e pasteis de Belem, como se eu nem sequer fosse diabética, o taxi que ia tendo um acidente grave, a dança, as fotografias enquanto ele dormia a sesta.





E o melhor disto tudo é como acabou bem.

Porque ele disse que, perante a minha realidade e a história da minha vida, ele entendia que eu não vivesse com os pés do chão, porque eu não me podia dar ao luxo de pôr os pés no chão, mas que assim, como eu vivia - numa realidade distorcida mas intensa - era a maneira melhor para mim.
- Tu deslumbras-me. E quanto a nós, Deus dirá.


E assim, com esta bela conversa de despedida que eu desta forma tão inconfidente e perversa publico aqui no blog, eu nem o contradisse para lhe explicar como os meus pés estão tão enraízados como o tronco de uma acácia, e agora sim, com beijo com língua perto das portas de embarque e sem leitor de mp3 para o regresso (preparo-o agora para amanhã...), eu tive a minha primeira despedida amorosa num aeroporto.

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