Agora tenho uma webcam.
Às vezes ligo-a e fico a olhar para mim a olhar para o monitor.
Faz parte de um projecto que eu tenho de auto aceitação e de aumento dos meus níveis de auto estima.
Ele diz-me que prefere sem webcam. Que assim consegue ver que eu não me estou sempre a rir.
Na minha cabeça, eu mando-o para o cara... e suspiro em profundidade e irritação.
Mas perante o trabalho que me ia dar explicar-lhe porquê é que me aborrece que ele diga que prefere sem webcam, calo-me.
Quero lá saber, eu gosto disto, de imagens.
Enquanto estou a postar, às vezes vou ver-me, ver o movimento dos olhos, ver como se eu mexer no cabelo com a mão direita, isso vai "reflectir-se" no lado esquerdo do ecrã.
Ai o cinema, o cinema.
(suspiro de deleite e sorriso)
Será que o cinema é uma motivação interior?
A minha médica é uma mulher inteligente.
Olhou para mim e nem falamos muito, uma consulta de minutos só para ela me dizer que eu tenho que querer viver, para viver.
"Motivação interior".
Ainda se falou nas distrofrias da minha barriga, na medicação, nos vários factores que possam ter interferido para este descalabro mas basicamente neste momento só é preciso eu querer viver.
(fui olhar para mim outra vez - os meus lábios não parecem tão finos como eu penso que eles são)
Eu nem discuti com a médica, bastou olhar para ela, respirar fundo, esticar as pernas,coçar a nuca e dizer, a expirar, pois é.
Às vezes, eu observo o pânico das pessoas saudáveis perante a hipótese de adoecerem e penso em como, efectivamente, eu não ligo assim tanto ao meu corpo.
Consigo saber que ele está a apodrecer e não fazer absolutamente nada.
(tirei os óculos para me ver mas sem óculos não vejo muito nítido).
"motivação interior"
Isso é o quê mesmo?
As pessoas que gostam de mim às vezes falam-me em cura, e eu, da minha altivez de doente crónica, desprezo esse discurso, e explico o que é possível e o que é impossível.
Mas se calhar se eu gostasse tanto de mim como essas pessoas, eu tinha o diário da glicémia mais actualizado, eu estudava-o semanalmente, eu gastava tempo com o meu corpo, e alterava o esquema de insulina quantas vezes fosse preciso até ficar bem.
Mas eu prefiro com webcam.
Para me ver a mim e aos outros.
E prefiro com música.
E gosto mais quando a conversa não é séria.
Adoro quando é para rir.
É reconfortante quando a culpa não é minha, seria mesmo bom que eu não precisasse de querer viver para viver.
(de facto, eu fui ver agora o meu ar e é assustadoramente sério e pesado, se calhar é mesmo melhor sem webcam)
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1 comentário:
tu estás tão enganada ;)
beijinhos
ana
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