
Quando cheguei ao avião, ouvia-se Frank Sinatra e a minha primeira impressão foi: estas hospedeiras são um bocado freaks.
E, de facto, quando estavam a servir carne com batatas fritas às 16h, uma delas, a mais extrovertida, disse "esta merda" ao referir-se a um bocado de gelo.
E disse-o em voz alta e determinada, como se ela fosse uma hospedeira senior a ensinar às outras, subservientes estagiárias, o que se devia dizer quando fosse difícil pegar no gelo.
Deve fazer-se isso: dizer, Esta merda assim não dá!, em voz alta, para os passageiros ouvirem.
E a distribuição de sorrisos também não é gratuita: depende tanto da personalidade da hospedeira quanto do facto do passageiro merecer ou não...
Uma delas tinha 37 anos e trabalhava na Ground Force - tinha tentado muitas vezes passar a hospedeira mas recusavam-na por causa da espondilose. Mas agora, desde há 2 anos e meio que era hospdeira da TAP, tinha conseguido entrar quando menos esperava e já não ligaram à espondilose.
A seguir à aterragem, voltamos a ouvir Frank Sinatra.
Na verdade, há uma coisa que eu gostava de assimilar e pôr em prática na minha vida que passo a tentar explicar de seguida:
há alturas em que temos datas de exames, apresentações, desafios complicados e trabalhosos calendarizados nas nossas agendas mentais.
e então dizemos (eu pelo menos digo) assim: ai, vai ser tão bom quando chegar dia x às x horas, quando tudo isto tiver passado.
e desde a altura em que somos confrontados com o desafio até à data do seu termino ou desenlace (falo de coisas com datas marcadas), tendemos a não viver tanto.
Ou pelo menos faço isso: aliás, parece que faço mas não faço não é? porque uma pessoa não pode pôr a vida em pausa e depois voltar.
Posto isto: eu quero viver esses dias até essas datas como se não os estivesse a contar, indo fazendo as coisas e trabalhando sem pensar quero tanto chegar ao dia x.
É que assim perdemos tempo de vida, quando queremos que ela corra mais depressa.
E tudo isto nunca passa.
Como é mais que óbvio, eu quero que chegue quarta à noite, porque acho que vou respirar fundo, pelo menos por uns dias.
E sei também que aí o músculo vai parar e a lesão vai fazer-se sentir, com menos movimento.
Mas talvez depois da aterragem, eu comece a ouvir Frank Sinatra e afinal percebo que ainda estou a voar, com nuvens cor de rosa e hospedeiras freaks e um destino qualquer.
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