terça-feira, 4 de novembro de 2008

no, I can

As tristes imagens do dia relatadas pelo telefone, o lugar para o carro que não vou arranjar, mentir por sms à minha irmã do outro lado do mundo, o imigrante que vem buscar cá a casa as cartas da segurança social, o charme do Obama e a vassoura da cozinha que está nojenta, as costuras por fazer, tac e rx para marcar, os dias passam, são dias a mais, são dias a menos, a rua é a subir, cento e tal degraus a tentar fugir do cócó dos pombos, mais relatos de doença, a ideia de que não estou onde devia estar, o acne que me invadiu as costas, o pescoço e cara, que raio de coisa, não entendo o que se passa, todos os dias uma borbulha nova, alguma febre, nem sequer é gripe de cama, é só uma dorzita de garganta e uma febre baixa, o pânico quando descobri que não tinha trazido a minha botija, logo no dia a seguir comprei um saco de água quente, tenho algum conforto em beber café de manhã e ouvir as noticias do mundo e do futebol, não sei muito bem o que vestir, qualquer coisa confortável, muitos homens, todos homens na televisão, as mulheres ainda não estão presentes nas eleições americanas nem na sic noticias, pensei que tinha voltado às minhas saudaveis rotinas, ler, agendar, planear trabalho e vida, qual quê, desculpo-me dizendo que não há condições agora, tenho pessoas que precisam de mim, tenho unhas para cortar, penso em namorados felizes, brincadeiras sexuais, coisas de sitcom, é meia noite, antes de me ir deitar talvez cosa à máquina, a porta do quarto, a cama está muito perto da porta da rua, o telefone fixo está avariado, comecei a ouvir mal na altura mais dramática, não tenho duvidas, cada vez acho mais, que as pessoas precisam de falar, falar, contar, coisas que lhes acontecem dentro e fora de si, eu também, ainda corto unhas hoje, amanhã não quero levar a bomba na liga da perna, quero que vá no bolso sem me incomodar, vou acabar este post, tenho que ser mais exigente, ando mandriona em relação à vida, se me levantasse mais cedo, se andasse mais rápido, eram minutos que ganhava, perder menos tempo a escolher que pão vou comprar, andar mais depressa quando volto para casa, não abrandar o passo, há coisas em que eu posso melhorar, fazer render mais o meu dia, é que ainda não é o meu tempo do desleixo do choro profundo.

Sem comentários: