Hoje é que dia mesmo?
É quarta.
Esfrego os olhos debaixo dos óculos, estou mais calma, e mais animada.
É com alívio que me acho assim.
Tenho vindo a pensar nos motivos pelos quais as pessoas choram.
Porque parece-me que já quase ninguém pára nas alminhas, tira o chapéu, inclina-se respeitosamente perante o desarmante destino e reza um pai nosso.
(Falo como se tivesse havido um tempo assim, é o "dantes". "Dantes" era um tempo favorável, "agora" as pessoas mudaram, "agora" as pessoas não são como "dantes").
Penso na Joni Mitchell e penso naquela parte da letra do Circo de Feras, em que ele espera por ela no fundo da rua, a pensar na sua sorte.
Fiquei sozinha com uma colega à hora de almoço.
Perguntou-me por que razão eu estava sozinha, disse que lhe parecia que eu tinha sido magoada pelos homens.
Confesso: corroborei a sua teoria, validando-a com um ar de mulher magoada, enquanto lavava o tupperware do almoço.
Expliquei que tinha medo.
Disse, quase baixinho, confesso que tenho medo porque estreitei o coração.
Aos vinte anos, o amor é maior, uma pessoa entrega-se mais.
(ela concordou)
Depois, é difícil encontrar alguém decente, parece que tudo me faz confusão, esta gente toda baralha-me porque não entendo as suas intenções, não entendo o que se passa com as pessoas e tenho a impressão de que me falta muita da informação necessária para poder vingar no mundo dos relacionamentos, entendes?
(aqui ela fez um ar de quem não estava a perceber, e na verdade nem eu entendia de que raio estava a falar, era melhor dizer a verdade e acabar com a conversa sufocante de uma vez:)
Não encontro ninguém com quem corra bem, é por isso que estou sozinha.
Já quando ela não me ouvia eu disse: de qualquer modo, eu ainda estou parada diante de umas alimhas que encontrei no caminho, a ver se chega a hora de voltar a pôr o chapéu e continuar.
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