Eu vou fazer uma coisa mas vou explicar.
É que eu hoje não estou muito segura, isto é: eu hoje estou trémula neste mundo.
Não, espera, não estou a ser dramática, estou a tentar arranjar uma imagem que descreva o que sinto.
Portanto, é como se o meu andar, um pé posto no chão e depois o outro, nessa cadência instintiva, esteja influenciado pelo tremer do meu corpo.
Não é ansiedade, espera, não é bem isso. É um tremer de medo do que se avizinha que me faz ficar quieta na vida.
Quieta, entendes?
Porque perceber as coisas não as torna mais simples, nem lhes retira a tristeza.
Pois, isso, eu estou triste.
E também fragilizada.
E encolhida.
Se gostasses de mim, eu acho que era melhor.
Mas não gostas.
Tudo bem, hoje não é isso que mais me incomoda - isso faz parte de um todo (o mundo) que me assusta.
Pronto, eu não te vou conseguir explicar.
Nem me apetece.
O problema é que eu sei que podia falar contigo sobre o mundo, sobre tudo, tudo, tudo, tudo.
E ficar calada também.
E isso era bom, eu precisava disso hoje.
Assim, como eu estava a dizer, eu vou fazer uma coisa.
Vou abrir o mail e deixa-lo aberto, enquanto fico quieta, aqui ao lado.
Ele vai ficar aberto mas tu não vais aparecer mas assim é como se me fizesses companhia neste desterro (não te assustes com os meus adjectivos / nomes, sou só eu a procurar imagens).
Fica assim, está bem?
Não me agridas.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
A minha alteração de rotinas
A questão é que eu demoro um bocadinho a perceber que as coisas, na sua realidade, não são exactamente como aparecem na minha cabeça.
E há um determinado dia, uma tarde, um final de manhã, em que é dada aos meus olhos a possibilidade de ver as coisas "como elas são".
A Dra Cristina disse-me que eu era autónoma, eu fiz um ligeiro ar de desespero e disse-lhe mas ainda preciso da sua ajuda, e ela no fim da consulta abraçou-me.
A minha mãe também me abraçou, eu retribuí com força, era nítido que ela precisava.
A gata Jonas também levou um abraço mas ela devia ter andando a esfregar-se em alguma coisa muito mal cheirosa, de modo que foi um abraço menor.
Pus os meus braços à volta da nogueira e das árvores grandes, que fui trepando uma a uma.
Abracei a Cátia, a Raquel, a Gi, a Ana, a Mariana, a Susana, mais ou menos todas ao mesmo tempo.
Sim, é isso mesmo: eu acho que estou carente.
E quantos mais abraços der, mais recebo.
Mas ainda não é altura de falar nisso.
E há um determinado dia, uma tarde, um final de manhã, em que é dada aos meus olhos a possibilidade de ver as coisas "como elas são".
A Dra Cristina disse-me que eu era autónoma, eu fiz um ligeiro ar de desespero e disse-lhe mas ainda preciso da sua ajuda, e ela no fim da consulta abraçou-me.
A minha mãe também me abraçou, eu retribuí com força, era nítido que ela precisava.
A gata Jonas também levou um abraço mas ela devia ter andando a esfregar-se em alguma coisa muito mal cheirosa, de modo que foi um abraço menor.
Pus os meus braços à volta da nogueira e das árvores grandes, que fui trepando uma a uma.
Abracei a Cátia, a Raquel, a Gi, a Ana, a Mariana, a Susana, mais ou menos todas ao mesmo tempo.
Sim, é isso mesmo: eu acho que estou carente.
E quantos mais abraços der, mais recebo.
Mas ainda não é altura de falar nisso.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Este vestido austríaco só me traz dissabores e eu não o quero usar mais

Descompensei.
E na sexta eu vou ter com a Dra Cristina e digo-lhe logo:
- Por favor, não vamos descarregar os valores da bomba, nem vamos olhar para as minhas análises.
Eu vou explicar o que aconteceu e a Dra Cristina depois tenha piedade de mim, mande-me embora, dê-me umas semanas que eu volto a equilibrar porque sinceramente agora estou péssima.
Hálito doce, uma ligeira nausea contínua, noites com má disposição, um descontrolo do apetite, ora muito ora nada, falta de energia, ora tudo muito baixo, ora tudo muito alto, sempre a ir fazer xixi, essas coisas todas.
Dra Cristina, eu sei que no início do Verão eu tive uma HbA1C espantosa, fui congratulada por toda a Associação de Diabéticos, 6,8% não é todos os dias que se alcança.
Eu sei, digna de poster, digna de paper em congressos sobre os benefícios da bomba de insulina.
Mas olhe para mim: engordei, já viu a minha pança e as minhas coxas, tenho aquele amarelo na cara, estarei possivelmente a criar infecções em vários sítios, eu nem quero ver a minha HbA1C, tenho demasiada vergonha.
Acredite em mim, isto descambou em Agosto e nunca mais foi ao sítio.
E a culpa é toda minha - isto é tudo da minha responsabilidade, nem é preciso mandar-me para o ensino com a enfermeira nem ir ter com a nutricionista para fazer um plano alimentar nem sequer fazer mais análises nem marcar consultas semanais.
Ambas sabemos, Dra Cristina, que eu não estou aqui nesta consulta a fazer nada.
Tenho mesmo é que me esforçar dia a dia, hora a hora, concentrar-me em fazer tudo direito, comer a horas, a quantidade de hidratos de carbono correcta, o bolus de insulina preciso, talvez nesta fase aumentar a insulina basal, fazer mais testes, gastar mais tempo com isto e ter paciência e preserverança.
Eu sei que consigo.
Também não é que tenha alternativa, não lhe parece?
Mas acabei por não lhe contar o que se passou para ter descompensado, não foi?
Também não sei se interessa muito, pronto, na verdade aconteceram algumas coisas mas não consigo falar nelas - eu ainda não falei muito sobre elas.
Não é preciso fazer esse ar, Dra Cristina, não tenha pena de mim. Se eu ando descompensada a culpa é minha - irrita-me isso nesta doença, sabe?
Queria muito não ter culpa...
Já sei: mande-me para o psicologo clínico Dra Cristina, a sério, eu quero ir.
Ou então passe-me aí um papel e eu envio a uma certa pessoa que não se apaixonou por mim como devia.
Não se ria, Dra, que o assunto é sério!
Acredita que ele em vez de me ajudar - a mim, pobre de mim, doente e desgraçada - foi-se embora sem dar notícias, sem querer saber se eu estou bem? Dá para acreditar?
Passe aí uma receita, que depois eu vou buscar a vinheta lá na recepção, escreva aí com letra legível se conseguir, escreva como eu sou uma alma perturbada, desamparada e carente, escreva aí como o facto de ele não gostar de mim fez disparar a minha hemoglobina glicosada. Já agora declare que, para os devidos efeitos, eu sou uma mulher (é que não sei se ele sabe), que sou uma mulher para a vida, e que apesar de tudo eu nem dou assim muito trabalho, que eu sei tomar conta de mim e que eu vou conseguir compensar, atingir novamente uma HbA1C maravilhosa - vamos apontar para 0s 7,5%, sim, Dra Cristina? - e pronto. Que eu me lembre, é só isso que preciso da farmácia.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
O pior salmão que já comi

E estava Jesus Cristo no jardim com os seus amigos quando chega um deles e lhe diz, com grande à vontade:
- Oh Jesus, dá cá dois beijinhos!
E foi nesse preciso momento que Ele pensou: pronto, está tudo acabado!
E se eu fechar os olhos consigo ver a cara com que Jesus ficou quando aquele sonso lhe deu dois beiijinhos.
Foi a mesma cara com que eu fiquei quando uma vez dei boleia a um rapaz a quem gostava de fazer cócegas, entre outras coisas físicas, e então dei-lhe boleia a ele e a uma "amiga", muito moderna e gira, com franja e casaco preto, e eles sairam os dois do meu carro e ela deu-me dois beijinhos a agradecer a boleia, e ele disse: Dá cá dois beijinhos! E eu, feita estupida, dei.
Quando arranquei com o carro dei por mim a pensar: houve qualquer coisa que não correu bem mas não consegui bem ver o que foi.
Vi dois dias mais tarde, vi que eles afinal estavam juntos.
Bem, e agora, mais recentemente, com maior gravidade, outros dois beijinhos me foram pedidos
Na verdade eu não consigo lembrar-me de como tudo aconteceu, não sei se foram mesmo pedidos,
Se foi só o sinal universal para: vamos dar dois beijinhos,
Se houve um braço qualquer a pegar no meu (não, acho que isso eu lembrar-me-ia),
Não consigo precisar, tento rever esse momento na minha cabeça mas não consigo.
Mas, mas mas mas mas mas
MAS
sim, houve dois beijinhos
chuac chuac
E nesse preciso momento o que eu devia ter feito, se não estivesse sob o efeito de uma droga qualquer que ele colocou no ar à sua volta e que me paralisou totalmente o cérebro, o que eu devia ter feito era ter parado aquele inclinar caracteristico dos dois beijinhos, parar com alguma força, empurrar com alguma violência, mandá-lo ao chão e dizer:
- Não, com dois beijinhos é que não.
Mas em vez disso, eu dei dois beijinhos, a concordar, a selar o fim.
E agora, hoje ao jantar, eu ia comer salmão e eu adoro salmão grelhado com feijão verde e criei expectativas acerca do jantar e então o que aconteceu foi que o salmão era mesmo muito mau, era o pior salmão de sempre e, no meio das garfadas eu pensei:
-Terá ele razão? Expectativas são desilusões? Ou sou só eu que não sei escolher peixe?
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Na estrada de Damasco
E quando eu vinha no autocarro, já era noite, tinha as mãos frias, pronto, era Outono, e nesse instante em que o autocarro pára para encher, eu olho para os pneus de um outro autocarro e tenho um ataque de lucidez.
Tudo se tornou então claro para mim: Oh meu Deus, ele não gosta de mim.
Como uma pecadora no momento da conversão, escancarei a boca e abri muito os olhos, acho até que me babei ligeiramente, e senti-me tão lúcida que me enchi de vergonha.
Fiquei envergonhada da cabeça aos pés.
A "situação" surgiu-me perante os olhos com toda a clareza, com toda a crueldade, com toda a verdade.
Este momento nunca é agradável, pensei eu.
Este preciso momento nunca tem grande graça.
E, à medida que o autocarro ia subindo a rua, uma mãe batia nas filhas, um senhor ao meu lado abanava a cabeça, um outro dormia e eu ia deixando de ter os olhos tão abertos.
Limpei a baba e limpei o ranho. Abri e fechei os olhos, mexi-me no banco.
Fim da epifania.
Convertida?
Vamos a contas:
lucidez: 85%
esperança: 65%
Por amor de Deus, Madalena, continuas em negação???
Sim, estou em negação:
Gosta de mim: 20%
Não gosta de mim: 60%
Gosta mais ou menos: 70%
Mas se queres saber, pessoa-com-quem-eu-falo-quando-estou-sozinha-e-que-no-fundo-sou-eu, eu neste momento estou mesmo envergonhada e neste momento acho mesmo que ele não gosta de mim e invade-me um sensação de pânico, como aquela que se tem antes de fazer um exame doloroso.
Tudo se tornou então claro para mim: Oh meu Deus, ele não gosta de mim.
Como uma pecadora no momento da conversão, escancarei a boca e abri muito os olhos, acho até que me babei ligeiramente, e senti-me tão lúcida que me enchi de vergonha.
Fiquei envergonhada da cabeça aos pés.
A "situação" surgiu-me perante os olhos com toda a clareza, com toda a crueldade, com toda a verdade.
Este momento nunca é agradável, pensei eu.
Este preciso momento nunca tem grande graça.
E, à medida que o autocarro ia subindo a rua, uma mãe batia nas filhas, um senhor ao meu lado abanava a cabeça, um outro dormia e eu ia deixando de ter os olhos tão abertos.
Limpei a baba e limpei o ranho. Abri e fechei os olhos, mexi-me no banco.
Fim da epifania.
Convertida?
Vamos a contas:
lucidez: 85%
esperança: 65%
Por amor de Deus, Madalena, continuas em negação???
Sim, estou em negação:
Gosta de mim: 20%
Não gosta de mim: 60%
Gosta mais ou menos: 70%
Mas se queres saber, pessoa-com-quem-eu-falo-quando-estou-sozinha-e-que-no-fundo-sou-eu, eu neste momento estou mesmo envergonhada e neste momento acho mesmo que ele não gosta de mim e invade-me um sensação de pânico, como aquela que se tem antes de fazer um exame doloroso.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Amorzero

Os meus flirts transformados em cães de loiça enviam-me mensagens ternurentas notando a minha ausência no trabalho.
Com a casa em arrumações, cola branca, ferramentas, madeira e tinta à mistura, eu penso, sentada no chão da sala: realmente, o grau zero do amor tem alguma coisa de reconfortante.
Mas depois continuei a pensar (e é um erro continuar a pensar): será que também "este" se vai tornar num cão de loiça? ou será que eu estou a expiar todo o mal que já causei a quem eu abandonei, mesmo sabendo que gostavam de mim? será que devo comprar um cão de loiça para a minha sala?
Lembrei-me de Livro de Coeleth.
Será este o meu tempo para evitar abraços?
À tarde, abri uma caixa que tinha posto na prateleira da minha mesa de cabeceira.
Estava cheia das minhas coisas.
A vaquinha que dorme, o anjo de madeira, o boletim de vacinas, o livro com coisas e orações, fotos das árvores, enfim, todos os objectos que estavam ao pé de mim quando ia dormir.
Como é que eu fiquei estes meses todos sem abrir a caixa?
Agora, no meu quarto, estou mais acompanhada.
Coeleth era um doido.
Eu, Qohélet, fui rei de Israel, em Jerusalém, apliquei o meu espírito a estudar e a explorar, pela sabedoria, todas as coisas que sucedem debaixo do céu. É uma tarefa ingrata que Deus deu aos homens e os oprime.
Vi tudo o que se faz debaixo do Sol
e achei que tudo é ilusão e correr atrás do vento.
Apliquei, igualmente, o meu coração a conhecer a sabedoria, a loucura e a insensatez; e reconheci que também isto é correr atrás do vento.
Porque na muita sabedoria há muita arrelia, e o que aumenta o conhecimento, aumenta o sofrimento.
Há também aquela parte muito bonita, acerca do tempo para isto e para aquilo.
No fundo, acerca do tempo favorável.
Todas as coisas que Deus fez, são boas a seu tempo.
Coeleth, após ter procurado uma experiência humana completa (entreguei-me ao vinho e aferrei-me à loucura) diz o seguinte:
Eu concluí que nada é melhor para o homem do que folgar e procurar a felicidade durante a sua vida.
Assim seja.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
0 - 0 pode não ser um empate
Já por duas vezes reparo que as pessoas olham para a minha cara toda, para o cabelo que a rodeia, para as orelhas e óculos e mais não sei bem para onde. Sei que desviam o olhos dos meus, e quase que parece que se distraem do que estou a dizer e olham para mim.
Bom, ocorreu-me que isso pode estar relacionado com o facto de não dares notícias.
Porque repara, e isto é tragi cómico, sinceramente dá-me vontade de rir, porque repara (até tenho que parar para rir um bocado).
Repara que enquanto não olhaste para mim, mantinhas contacto frequente.
E depois de olhares, é o que se vê.
Nem uma prova de vida.
Eu bem sei que me foge o pé para o drama e que promovo e crio o floreado do enredo, sei que tendo a analisar tudo errado, a esquecer pormenores como "só passaram uns dias" ou "não és importante para ele" ou ainda "não te parece que ele deve ter mais que fazer?" mas mesmo assim, mesmo assim (e agora já não estou a rir tanto) mesmo assim dou por mim a pensar, é inevitável que não o faça, que tu olhaste para a minha cara. Eu vi.
Até sei dizer a esquina onde isso aconteceu.
Eu há bocado fui até ver-me ao espelho mas a luz da minha casa de banho é muito fraca.
Será que tenho muitos pêlos faciais? Eu não sei se és dos que liga a essas coisas...
Será que se nota a quantidade brutal de cabelos brancos? Talvez tenha parecido uma criatura demasiado estranha, velha e criança ao mesmo tempo...
E estes dentes amarelos?
Não sei o que viste porque também não mo dizes.
Eu não entendo nada.
(dou por mim distraída, às vezes durante o dia, a abanar a cabeça e encolher os ombros e a murmurar: não entendo)
Ou se calhar até entendo mas não quero aceitar.
Sinceramente, eu queria até dizer-te isto tudo, percebes?
Mas assim não sei, parece-me que não queres ouvir.
Não me quero impor, não acho correcto e queria manter alguma dignidade altiva, não ser a mesma tola desbocada de sempre.
Por isso pega nesse teu não-gostar e leva-o para longe da minha cara porque eu não sei fingir que isso não me deixa triste.
Bom, ocorreu-me que isso pode estar relacionado com o facto de não dares notícias.
Porque repara, e isto é tragi cómico, sinceramente dá-me vontade de rir, porque repara (até tenho que parar para rir um bocado).
Repara que enquanto não olhaste para mim, mantinhas contacto frequente.
E depois de olhares, é o que se vê.
Nem uma prova de vida.
Eu bem sei que me foge o pé para o drama e que promovo e crio o floreado do enredo, sei que tendo a analisar tudo errado, a esquecer pormenores como "só passaram uns dias" ou "não és importante para ele" ou ainda "não te parece que ele deve ter mais que fazer?" mas mesmo assim, mesmo assim (e agora já não estou a rir tanto) mesmo assim dou por mim a pensar, é inevitável que não o faça, que tu olhaste para a minha cara. Eu vi.
Até sei dizer a esquina onde isso aconteceu.
Eu há bocado fui até ver-me ao espelho mas a luz da minha casa de banho é muito fraca.
Será que tenho muitos pêlos faciais? Eu não sei se és dos que liga a essas coisas...
Será que se nota a quantidade brutal de cabelos brancos? Talvez tenha parecido uma criatura demasiado estranha, velha e criança ao mesmo tempo...
E estes dentes amarelos?
Não sei o que viste porque também não mo dizes.
Eu não entendo nada.
(dou por mim distraída, às vezes durante o dia, a abanar a cabeça e encolher os ombros e a murmurar: não entendo)
Ou se calhar até entendo mas não quero aceitar.
Sinceramente, eu queria até dizer-te isto tudo, percebes?
Mas assim não sei, parece-me que não queres ouvir.
Não me quero impor, não acho correcto e queria manter alguma dignidade altiva, não ser a mesma tola desbocada de sempre.
Por isso pega nesse teu não-gostar e leva-o para longe da minha cara porque eu não sei fingir que isso não me deixa triste.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Manda-me uma carta em correio azul para afastar estas 5 nuvens negras
A meio da manhã, a tese impressa olhou para mim, com grande cumplicidade, e perguntou-me:
-Então, esse alívio?
Eu olhei para ela:
- Alívio algum, minha cara, alívio algum.
Pensei que, por esta altura, eu fosse gritar a todos: beija-me porque terminei a tese, mas em vez disso, ficamos a olhar uma para a outra, eu e a dita, sem qualquer suspiro, sem qualquer alegria.
- Mas o que foi? - disse ela um bocadinho indignada, quase nada, mas um bocadinho - é porque ainda tens que ver as gralhas e corrigir a formatação?
- Não, isso são só mais umas horitas, não é isso.
Encolhi os ombros sem grande energia.
Ela olhou para mim mas também não estava surpreendida com a minha falta de excitação.
Ambas sabemos que os meus problemas neste momento são outros.
- És uma boa companhia, assim pronta - disse-lhe eu e dei-lhe uma festinha.
Mais ao final da tarde, do carro da minha tia, a minha muito doente avó e a minha muito triste mãe, todas me acenaram.
Separamo-nos à saída de Santa Maria.
Eu para casa.
Elas para casa.
E depois a minha saia de seda, as minhas sandálias, tudo me pareceu roupa a menos.
Com a tese agarrada ao peito, eu pensei:
-Realmente, a dor não serve absolutamente para nada.
Para nada.
Por isso, manda-me uma carta em correio azul, sergio godinho, que hoje chegou o Outono.
-Então, esse alívio?
Eu olhei para ela:
- Alívio algum, minha cara, alívio algum.
Pensei que, por esta altura, eu fosse gritar a todos: beija-me porque terminei a tese, mas em vez disso, ficamos a olhar uma para a outra, eu e a dita, sem qualquer suspiro, sem qualquer alegria.
- Mas o que foi? - disse ela um bocadinho indignada, quase nada, mas um bocadinho - é porque ainda tens que ver as gralhas e corrigir a formatação?
- Não, isso são só mais umas horitas, não é isso.
Encolhi os ombros sem grande energia.
Ela olhou para mim mas também não estava surpreendida com a minha falta de excitação.
Ambas sabemos que os meus problemas neste momento são outros.
- És uma boa companhia, assim pronta - disse-lhe eu e dei-lhe uma festinha.
Mais ao final da tarde, do carro da minha tia, a minha muito doente avó e a minha muito triste mãe, todas me acenaram.
Separamo-nos à saída de Santa Maria.
Eu para casa.
Elas para casa.
E depois a minha saia de seda, as minhas sandálias, tudo me pareceu roupa a menos.
Com a tese agarrada ao peito, eu pensei:
-Realmente, a dor não serve absolutamente para nada.
Para nada.
Por isso, manda-me uma carta em correio azul, sergio godinho, que hoje chegou o Outono.
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