A meio da manhã, a tese impressa olhou para mim, com grande cumplicidade, e perguntou-me:
-Então, esse alívio?
Eu olhei para ela:
- Alívio algum, minha cara, alívio algum.
Pensei que, por esta altura, eu fosse gritar a todos: beija-me porque terminei a tese, mas em vez disso, ficamos a olhar uma para a outra, eu e a dita, sem qualquer suspiro, sem qualquer alegria.
- Mas o que foi? - disse ela um bocadinho indignada, quase nada, mas um bocadinho - é porque ainda tens que ver as gralhas e corrigir a formatação?
- Não, isso são só mais umas horitas, não é isso.
Encolhi os ombros sem grande energia.
Ela olhou para mim mas também não estava surpreendida com a minha falta de excitação.
Ambas sabemos que os meus problemas neste momento são outros.
- És uma boa companhia, assim pronta - disse-lhe eu e dei-lhe uma festinha.
Mais ao final da tarde, do carro da minha tia, a minha muito doente avó e a minha muito triste mãe, todas me acenaram.
Separamo-nos à saída de Santa Maria.
Eu para casa.
Elas para casa.
E depois a minha saia de seda, as minhas sandálias, tudo me pareceu roupa a menos.
Com a tese agarrada ao peito, eu pensei:
-Realmente, a dor não serve absolutamente para nada.
Para nada.
Por isso, manda-me uma carta em correio azul, sergio godinho, que hoje chegou o Outono.
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