segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Na estrada de Damasco

E quando eu vinha no autocarro, já era noite, tinha as mãos frias, pronto, era Outono, e nesse instante em que o autocarro pára para encher, eu olho para os pneus de um outro autocarro e tenho um ataque de lucidez.

Tudo se tornou então claro para mim: Oh meu Deus, ele não gosta de mim.

Como uma pecadora no momento da conversão, escancarei a boca e abri muito os olhos, acho até que me babei ligeiramente, e senti-me tão lúcida que me enchi de vergonha.

Fiquei envergonhada da cabeça aos pés.

A "situação" surgiu-me perante os olhos com toda a clareza, com toda a crueldade, com toda a verdade.

Este momento nunca é agradável, pensei eu.

Este preciso momento nunca tem grande graça.

E, à medida que o autocarro ia subindo a rua, uma mãe batia nas filhas, um senhor ao meu lado abanava a cabeça, um outro dormia e eu ia deixando de ter os olhos tão abertos.

Limpei a baba e limpei o ranho. Abri e fechei os olhos, mexi-me no banco.

Fim da epifania.

Convertida?

Vamos a contas:
lucidez: 85%
esperança: 65%

Por amor de Deus, Madalena, continuas em negação???

Sim, estou em negação:
Gosta de mim: 20%
Não gosta de mim: 60%
Gosta mais ou menos: 70%


Mas se queres saber, pessoa-com-quem-eu-falo-quando-estou-sozinha-e-que-no-fundo-sou-eu, eu neste momento estou mesmo envergonhada e neste momento acho mesmo que ele não gosta de mim e invade-me um sensação de pânico, como aquela que se tem antes de fazer um exame doloroso.

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