quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Baixa fraudulenta

1. Antes de adormecer e a caminho do trabalho

Lembro-me mais de pormenores da doença e morte do que como era divertido estar ao pé dela. Lembro-me de detalhes do corpo quando sofria, a respiração antes de morrer, tudo coisas que me vêm à cabeça e depois fico com vontade de vomitar, digo: pára, não penses nisso, pára.
Depois penso como era divertido estar com ela, ver televisão, observar as maluqueiras dela e da amiga, plantar coisas, construir coisas, costurar.

Fico mais calma mas triste.


2. Podia aproveitar a sabedoria do que vejo e do que sei para começar a viver

Quando a minha médica ficou triste e respirou fundo antes de me falar, eu percebi que ia tudo começar novamente.
Desta vez, para além de uma análise, o diagnóstico foi feito quando ela me pediu as mãos, pegou nelas e começou a falar sozinha, como se eu não estivesse ali, pois está, estás a começar a ficar com (não me apetece verbalizar...).
Tratou-me como uma veterana das doenças crónicas invisíveis.


3. Tenho problemas

3.1. tenho doenças invisíveis

O meu aspecto é bom, é o aspecto de uma jovem rapariga saudavel a caminho dos 30.
Mesmo agora que uso um aparelho ligado a mim por um tubo, este anda tão escondido que nem se dá conta dele.
E mesmo que o vejam, eu falo dele com tal leveza e segurança que se torna tudo mais fácil.
Pois começo a achar que eu devia falar disto a chorar, falar disto sem sorrir, sem tranquilizar.
Só faço isso aos da minha intimidade mas isso leva-me à questão 3.2.

3.2. Sou um caso sério

Quem gosta de mim sofre por mim.
E isso ajuda-me a viver, na verdade eu ando bem disposta a maior parte dos meus dias.
E não é forçado, eu sou uma pessoa bem disposta, nem quando se usava andar triste (algures pelo secundário) eu conseguia.

O problema é este:
Quem se aproxima e eu deixo que se aproxime, começa a falar com uma pessoa bem disposta e acaba a falar com um caso sério da vida.

A minha sorte (ou azar) é que isto é muito raro acontecer.


4. Para mim estar ou não estar, fazer ou não fazer, tanto me faz

Trabalho em piloto automático, penso nas horas que faltam até sair, nunca tinha sentido isto tão intensamente, é uma sensação verdadeiramente nova para mim.
E, na minha cabeça, eu meti baixa e só lá vai o meu corpo.

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